REFÉM DE UM BEIJA-FLOR >> Clara Braga

Certo dia, meu filho comprou um daqueles cataventos bem coloridos em formato de flor que vendem no zoológico. Nós colocamos na varanda do nosso apartamento e logo percebemos que, por vezes, aparecia um beija-flor bicando o catavento.

Eu, talvez influenciada pela minha infância de filmes da Disney nos quais as princesas são sempre amigas íntimas dos animais, achei aquela cena tão linda que decidi colocar aqueles bebedouros para beija-flor pendurado na varanda. Assim, quando ele aparecesse, não iria se deparar com um catavento camuflado de flor, mas sim com uma água fresquinha.

Logo começou a aparecer mais beija-flor, eles vinham, bebiam a água e saiam. Típica cena de desenho animado. Até que, certo dia, outro tipo de pássaro decidiu vir beber a água. Eu achei o máximo, mas o beija-flor ficou puto da vida! Entrou na varanda e começou a bicar o outro pássaro, que era maior que ele, mas pelo visto não intimidava. Os dois começaram a brigar, entraram em casa, eu me assustei, dei um grito, assustei a cachorra que saiu correndo, bateu com o focinho no armário, começou a sangrar e ela, com tanto medo e provavelmente dor, ficou escondida rosnando para quem tentasse chegar perto dela.

Um pequeno caos que logo foi resolvido, mas esse foi o dia que comecei a desconfiar que beija-flor não parece ser um bichinho tão amigável quanto a Pocachontas faz parecer. Então, questionei meu marido se não era hora de parar de colocar a água, já que esse conto de fadas não parecia estar caminhando para um final feliz.

Tiramos a água. No dia seguinte, veio um beija-flor, procurou a água, não encontrou e saiu. Pouco tempo depois, veio novamente, ficou voando pela varanda e saiu. Na terceira vez, nós estávamos tomando café na mesa próxima à varanda e o beija-flor veio até a porta da varanda e ficou voando de um lado para o outro fazendo um barulho que mais parecia que ele estava pagando um belo sapo para a gente e perguntando que horas a água dele seria servida.

Se eu fiquei assustada? Imagina, só perguntei pro meu marido porque ele estava demorando tanto a atender a demanda do beija-flor, será que ele não estava entendendo que o bichinho não estava mais a fim de esperar a água dele?

Desde então, aconteceram algumas vezes de a água acabar e esquecermos de colocar, e em todas fomos mal recebidos pelo beija-flor em nossa antiga varanda que agora é sua casa. Todas as manhãs, a primeira coisa que fazemos é repor a água dos pássaros. E da janela podemos ver o beija-flor nos observando no topo da árvore. Ele fica lá só esperando algum outro pássaro se aproximar, então voa rapidamente para a varanda e bica os bichinhos até que eles saiam de sua casa.

Confesso que não gosto muito mais de beija-flor, mas sabe como é, estou encarando essa nova tarefa como um trabalho social que fazemos em prol do equilíbrio ambiental, pois não tenho coragem de tirar a água. Só espero conseguir continuar habitando a casa, pois do jeito que esse beija-flor é bravo, daqui a pouco ele me deixa só com meu quarto e toma conta do resto da casa.

Comentários

Nadia Coldebella disse…
Que historinha mais fofa!
Não fique brava com os bichinhos. Pense pelo lado positivo: sua casa está bem protegida!
Grande bjo, querida!
Zoraya Cesar disse…
haha, vc evoluiu, Clara, eu lembro de uma história sua em que vc falava q tinha um medo profundo de pássaros e que um dia entrou um em sua casa e vc teve de disfarçar pra nao passar seu medo pro nosso eterno Homem-Aranha kkkk
Anônimo disse…
Os bichos têm essa mania de "dono do pedaço". É parte da graça. André Ferrer aqui.
Albir disse…
Seria oportuno conseguir dele a promessa de que não vai expulsar você da casa.
Muito bom.

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