AMOR E MORTE EM FAMÍLIA - 1a parte >> Zoraya Cesar

Felícia era ladina. Sonsa. Pérfida. Insidiosa. Linda, delicada e loura, mais parecia uma fada, os olhos azuis lânguidos, a boca pequena e rósea. Usava, sem pruridos morais, os mais cavilosos ardis para conseguir o que queria e poucos resistiam à sua fala macia, sua lábia, seu sex appeal. Uma vez fazendo sexo com um homem, este jamais a largaria por vontade própria.

Seu charme era parecer bondosa e vulnerável, sempre tão indefesa, tão inadequada para viver nesse mundo cruel. Certos homens se rasgavam para oferecer-lhe amor e proteção. 

Toni Illuso era um desses. Conheceram-se na academia; ele, noivo da mulher que amava desde a adolescência, Janine - uma pessoa íntegra e maravilhosa, perfeita para qualquer homem com juízo na cabeça. Esqueçamos Janine, no entanto, porque ela foi expulsa da vida de Toni assim que Felícia entrou. 

A família ficou estarrecida. Como assim? Largou a noiva – que, até então, era a mulher de sua vida – para casar-se, sem cerimônia ou aviso prévio, com uma sirigaita que acabara de conhecer? A mãe de Toni não se conformava. O que dera naquele menino, pra agir assim? Sexo. Só podia! A decepção de D. Rose foi enorme. Nunca pensara que seu caçula fosse desses homens que se deixam levar pelo sexo. E, mesmo antes de conhecê-la, detestou Felícia. 

Curiosas são as pessoas. E perigosas, outras tantas. 

A velha D. Rose, por experiente que fosse, por contrariada que estivesse, por raiva que sentisse, por isso, por aquilo... não resistiu aos encantos da irresistível Felícia. 

Que, aos poucos, ganhou um espaço discreto, mas fundamental. Era a nora, a cunhada preferida. Confidente, conselheira, equilibrada, ponderada... adjetivos não lhe faltavam.

Nem malícia, nem talento para infiltrar o veneno da discórdia no cerne de uma família que, até então, fora unida, honesta e amorosa. Ninguém percebeu como tudo começou, mas o fato é que os almoços de domingo, antes encontros felizes, passaram a sediar batalhas verbais de acusações veladas, mágoas nunca antes sentidas, desconfianças mútuas. A sociedade entre irmãos na vidraçaria fundada pelos bisavós e passada pelas gerações estava ameaçada de partir-se em cacos afiados e mortais. 

Os cunhados e a matriarca da família procuravam Felícia em busca de apoio e solidariedade. Ela os ouvia, compungida e compreensiva, para, ao final, oferecer-lhes um conselho edulcorado de sensatez, no qual escondia-se uma pequena semente de desconfiança. Voltavam dessas conversas, sem perceber, ainda mais irados, mais ciosos de suas razões, mais convencidos da deslealdade uns dos outros. D. Rose, por exemplo, passou a suspeitar que, à exceção de Toni e Felícia, os outros filhos e noras desejavam que ela morresse, para herdarem sua parte do negócio. 

Felícia usava sandálias
de salto alto vermelhas.
Que homem resiste a uma mulher que
usa sandálias assim?
Toni Illuso não resistiu.
Felícia manobrou tão bem, que Toni passou seus bens e os direitos que tinha sobre a empresa para o nome da mulher, a fim de preservar o patrimônio da sanha gananciosa dos irmãos. Sagaz, Felícia deu um jeito de a notícia da doação se espalhar, aumentando a dissensão na família. 

E por que tudo isso? Há quem perpetre esse tipo de manipulação para sentir-se como um deus – um deus menor, todavia, que nada cria, apenas destrói. Ou pelo prazer de assistir o mundo ruir à sua volta, dançar sobre os escombros, abandonar suas vítimas à miséria emocional, quando não financeira, e partir. E Felícia? O que a movia?

Talvez tudo isso e algo mais. Uma coisa era certa: cupidez fazia parte indissolúvel da personalidade de Felícia. Desde o início planejara minuciosamente sua estratégia - provocar o cisma entre os irmãos, deixá-los todos vulneráveis e suspeitos uns aos olhos dos outros e ficar com o dinheiro de Toni - que não era muito, mas estava longe de ser pouco.

ninguém percebeu suas artimanhas e intentos? Ninguém se deu conta de que, desde que ela chegara, a família Illuso se desfazia? Nem mesmo D. Rosa, a esperta D. Rosa, pressentiu a fina teia de dissentimentos e cizânias que a ‘nora preferida’ urdia?

Oh, não. Na verdade, alguém percebeu quem era Felícia desde o inicio. 

Eu. 

A cunhada menos valorizada daquela família que era tudo para mim. 

Continua dia 21 de abril a 2a e, prometo, última parte.

Foto: Salvo de i-jaqueline-posts.tumblr.com in Pinterest




Comentários

Felícia que se cuide, é de onde a gente menos espera que vem a pior picada!
Unknown disse…
Como disse o meu cunhado,se cunhado(a) fosse boa coisa não começaria com "cunha" kkkk
Anônimo disse…
Se Cunhado(a) fosse boa coisa não começaria com "cunha", essa foi ótima, hahaha....
Mas agora indo ao assunto principal, ao que parece, novos defuntos (inclusive a "esperta") vão surgir!
E para variar, nenhum detalhe mais "explícito" das técnicas sexuais de conquista da Felícia. Assim não pode, assim não dá!
E parece que já vi outra personagem de olhos azuis nas suas crônicas.
Marcio disse…
Se cunhado fosse tão ruim quanto se divulga, teria que trocar de nome para "dilmado", "lulado", "zedirçado", "gramsçado", "marxado", e outras variantes mais.
Anônimo disse…
Querida Lady! Só espero por um cadáver nessa historia. E um fim daqueles! Grande Bjo!
Clarisse Pacheco disse…
Adorei a vidraçaria se estraçalhando em cacos....rsrs Quem tem teto de vidro que se cuide...
Anônimo disse…
Será q delícia vai arquitetar a morte de dona Rosa, q terá deixado tudo para o Tony? Será q a cunhada menos querida é irmã do Felipe espada??!!
Zoraya Cesar disse…
Ana Luzia - Esse é um bom conselho para todos nós. Mas acho que as Felícias da vida são meio desavisadas...

Unknown (EP)- que maldade!

Anônimo (JQ) - não posso postar coisas explícitas aqui, esse é um blog família (se bem que um amigo disse que os exemplos de minhas histórias não são lá mto edificantes...). E qto aos olhos azuis, ora, não tenho culpa se calhou de as mal vistas terem os mesmos olhos. Coincidência pura!

Marcio - gosto de contar causos de assassinatos e outros terrores, mas qdo o assunto é política até eu tenho medo.

Anônima (Veludosa) - Espero não decepcioná-la

Clarisse - vc, sempre gentil em pinçar frases das histórias!

Anônimo (AS)- o que vai acontecer, não sei, mas posso adiantar que o Felipe Espada está num congresso fora do país, não tem como ele se envolver nessa história. Até pq ninguém falou em assassinato, e ele é da Homicídios

Albir disse…
Já sinto pena dessa deusa chamada Felícia. Vamos ao martírio dela no capítulo 2.

Postagens mais visitadas