DOI >>> Nádia Coldebella
O coração dói. Melhor se fosse ataque cardíaco. Não isso. Mas era isso.
Flagrou a mentira. Mas não possuía provas. Parecia desconfiança para os outros. Mas era certeza.
Sinais… eu vejo os sinais! Riu, com amargor. Pequenos sinais. Um desviar de olho. Um tom de voz diferente. Uma ansiedade que antes não existia. As saídas contínuas. As explicações estranhas. A falta de informação. A ira repentina diante das perguntas. O distanciando. A solidão.
Solidão foi o que provou a vida toda. Em certa altura achou que tinha superado. Era engano. Tem gente que nasce pra ser só. Mesmo acompanhando. E tem gente que aprende. Não sabia bem qual o seu caso, talvez o primeiro. Mas isso não incomodava.
O que incomodava mesmo era a solidão por causa das mentiras. A casa havia virado hotel e nem recebia diária. Aquela mão não tocava mais nada ali. Nem seu corpo.
Tinha muitos pensamentos na cabeça. Todos lógicos e objetivos. Fazendo planos. Aplicativo espião. Contratar um detetive. Seguir. Instalar uma câmera no carro. Todos os planos esbarravam numa moral dura que fazia vergonha e culpa aparecerem rapidamente.
Fazer planos com a cabeça é fácil, mas como convencer um coração temeroso que deseja a verdade mas pressente o castelo de anos desmoronando e soterrando quem mora nele? Como se convence um coração medroso?
Começou a rezar. Se a verdade eclodisse como uma ave de um ovo, a responsabilidade sairia de suas mãos. Então só precisaria agir de acordo com os fatos. Isentaria-se de qualquer culpa. Manteria-se a vítima imaculada frente ao monstro que levou sua juventude.
A desculpa perfeita para justificar anos de covardia.
Vou ficar esperando, pensou.
Fica. Enquanto isso o tempo passa.
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Imagem: Behance.net
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Saudade, Nádia!