DESINTEGRAÇÃO >> whisner fraga

 


gosto de um tempo para pensar teoria literária,

esmiuçar o texto ao ponto de restar só fonemas, instintos,

revisar, revirar a frase, enxugar até que sobre algo de encanto, de brandura,

de subversão,

e, para pensar, a companhia vigilante dos livros, que já sequestram a casa, andam pelos corredores, invadem o banheiro, atocaiam as paredes,

basta um susto para revelar que meu assunto é o silêncio,

reescrever, burilar o incômodo, reescrever,

haverá um dia em que você se sentirá satisfeito com o texto?,

tomara que não,

publicar é uma confissão de incapacidade,

quando cessar o trabalho?, quando o conto sucumbirá sob o último acento?,

gosto de um tempo para desorganizar o impossível,

dilacerar.


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imagem gerada no dall-e.

Comentários

Zoraya Cesar disse…
uma 'dissecação" poética e literária e maravilhosa!
Ana Raja disse…
A insatisfação em achar que uma história ainda não está boa é o que mais me fascina. Belo texto, Whisner!
Nadia Coldebella disse…
E qdo um texto está pronto? Ele é tô mutável quanto o escritor.
E espera-se que seja intermitente também, regado por um certo desgosto, pra que o ego não desgaste a eterna necessidade de ajustes.
Lindo de ler!

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