MOÏSE KABAGAMBE, PRESENTE! >> whisner fraga

 Um brasileiro cordial gritou "a gente tem que dar um corretivo". Um brasileiro cordial chutou um congolês por duzentos reais. Um brasileiro cordial amarrou as mãos, os pés de um negro. Um brasileiro cordial encontrou um taco de beisebol e o resto você deve ter visto no vídeo, que viralizou nas redes. Um brasileiro cordial incomoda muita gente, dois brasileiros cordiais incomodam incomodam muito mais, três brasileiros cordiais incomodam incomodam incomodam muita gente. Um brasileiro cordial se aproximou, como quem não quer nada e também agrediu o homem. Quem estava ali pelo estrangeiro? Quem estava ali pelo negro? Quem estava ali pelo pobre? Quais os direitos de alguém que leva uma pancada na nuca? Na cabeça? O congolês tinha uma família, amigos, um registro de nascimento, um nome, uma vida, mas nada disso adiantou. Ele estava só, com a indignação e a injustiça. E morreu só. Nem os avisos de cenas fortes, antes de começar a selvageria, me impediram a náusea. Um brasileiro cordial tentou reanimar o homem, com medo das consequências, mas a violência já havia feito o trabalho. Ninguém queria matar, justificaram. Ninguém nunca quer matar. Até que vai lá e mata por duzentos reais. Mas nunca é somente por duzentos reais. 

Comentários

Sandra Modesto disse…
O pior é o lutador de jiu- jitsu que mobilizou Moise. Disse ter a consciência tranquila.
A palavra hediondo está sendo insuficiente.
Muito sensível a crônica. Parabéns.
whisner disse…
Sandra, tudo foi absolutamente terrível.
Carla Dias disse…
A ideia de que "não é problema meu" só propaga a violência. De que "não é comigo" só nos torna cada vez mais desumanos. Uma tristeza... mais uma tristeza repleta de vergonha. A pessoa sai do seu país para fugir da violência e morre naquele que a acolheu, vítima da violência de quem declara não ser bem assim. Bom, foi bem assim. Violência das descaradas.
Zoraya Cesar disse…
Sem palavras. Um pesadelo isso, tantos acontecendo por aí e continuarão acontecendo até q todos nos movamos. Viramos bárbaros. Piores que animais.
Albir disse…
Também não consegui evitar a náusea, Whisner, e repeti o tema.
whisner disse…
Carla, Zoraya, Albir, se eu fosse religioso acreditaria no fim dos tempos. Em tempo: Albir, li sua crônica e tá linda, furiosa.

Postagens mais visitadas