A MULHER, A TRISTEZA E O MENINO >> Cristiana Moura
O dia amanheceu e eu não levantei. Era coisa de tristeza acumulada que, nesta manhã, feito açude em nosso sertão, com a bem aventurança das chuvas, sangrou. As lágrimas molhavam minha face misturando o transbordar de água doce do açude e o sabor do aquoso salgado de um banho de mar. Tristeza quando sangra talvez seja sinal de abundância que nem chuva muita no sertão.
Nesta manhã não levantei-me. Miguel adentrou meu quarto em passos de leveza rara. Subiu em minha cama como quem a escala. O possível para seu tamanho de menino de quatro anos de idade. Sentou-se ao meu lado e perguntou:
— Vovó, por que você está chorando?
— Porque estou triste — respondi.
O pequenino acariciou-me a testa e disse:
— Pode chorar, pode chorar.
imagem disponível em: https://medium.com/@RespeitaAsPreta/a-for%C3%A7a-infind%C3%A1vel-da-mulher-negra-713d4f9a39a6
Comentários
Um adulto diria "para com isso, não vale a pena, levanta que melhora!"
Realmente a sensibilidade das crianças é excepcional.
Parabéns!!!