QUE PÉSSIMO DIA >> Clara Braga

Um dia, quando ainda trabalhava em sala de aula, uma aluna estava triste e pediu para conversar! 

Ela me contou sobre algumas situações delicadas que aconteciam entre ela e o pai. Me disse que já havia conversado com a mãe e pedido auxílio para que ela não precisasse ir mais para a casa do pai, mas a mãe tinha medo de acionar a justiça. 

Me informei sobre o que eu podia fazer, me coloquei à disposição, comuniquei a direção da escola e fiz o que estava ao meu alcance para garantir a segurança daquela menina. Mas eu, confesso, também tive medo de acabar me envolvendo em algum processo judicial, nem sabia ao certo o por que desse medo, mas sentia. 

Anos depois, já em outra escola, alunas que já haviam passado por situações de abuso e não tiveram apoio, informação ou coragem para denunciarem, não se sentiam protegidas na escola, pois alguém havia pichado a frase “se gemer não é estupro” na parede. 

Eu também não me senti segura, principalmente quando vi alguns rindo da situação como se fosse apenas uma brincadeira de adolescente. 

Aliás, várias vezes ao longo da vida não me senti e não me sinto segura, e vi minha insegurança virar piada. 

Quem faz piada normalmente diz que não dá para levar tudo tão à sério, que as mulheres exageram. E que se algo grave acontecer, temos sempre a tal da justiça para nos proteger.

Hoje, nós mulheres tivemos mais uma confirmação de que infelizmente estamos certas quando temos medo, mesmo existindo leis que dizem nos proteger. 

Estupro culposo? 

Que péssimo dia para ser mulher! 

Comentários

Sandra Modesto disse…
Estupro culposo é neologismo que inventaram para uma sociedade dolosa. Ser mulher é doloroso. Ótimo texto para o factual de hoje. Num pais onde mulheres são estupradas a cada 15 minutos.

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