SEXTO SENTIDO>>Analu Faria

Nunca acreditei nesse negócio de "poder do inconsciente", apesar de já ter lido um tanto sobre isso, apesar de saber que brigas fenomenais já haviam sido travadas em nome dos estudos da psique e do que ela tem de mais profundo. Apesar mesmo de ser a matéria com que lidam os psicólogos. Na verdade, eu secretamente achava os psicólogos meio charlatães, mais ou menos o que eu penso sobre a Xuxa falando da experiência dela com duendes.

Talvez por não acreditar nesse "poder", eu entendia os "insights" como maquinações que, malgrado fossem inconscientes, passassem pelo crivo do nosso entendimento e só aí manifestavam-se de forma consciente e mais ou menos controlada. Muito que bem, senhores: eu acho é que eu nunca tinha tido um insight! E eles vinham sendo numerosos. Obviamente, achei que estava ficando louca. Se você já teve aquela sensação de "Caraca, então... é isso?", aquele susto que acompanha o segundo de clarividência lúcida, você sabe do que estou falando. É coisa de gente doida. Fui a um psiquiatra. 

_ Epifanias são um ótimo sinal de saúde da mente!, riu o médico.

 _ Ótimo porque não são com o senhor!, soltei. _O senhor gostaria de estar na academia e, por um milésimo de segundo  pensar no seu mau humor como tendo a cara de uma freira velha e ressentida que te acompanha quando você menos precisa dela? - acho que o médico não se divertia assim com um paciente há muito tempo.

_ Leve a freira velha ao psicólogo e ouça o que ela tem a dizer, - ele rebateu, enigmaticamente, para meu desespero. Nesse ponto eu já me perguntava se aquele consultório, aquele médico, aquela conversa não eram uma alucinação. Para piorar, ele usou um filme como metáfora para me explicar como funcionava esse negócio de epifania:

_ Lembra do filme "O Sexto Sentido"? Lembra que os fantasmas só deixaram de ser assustadores quando foram ouvidos? Quando conseguiram dizer a que vinham? -  sem saber onde ia parar aquela conversa, só consegui atacar o médico com um argumento da quinta série:

_ Ah, tá! O senhor agora tá se achando com cara de Bruce Willis!

_ Não, a freira é o Bruce Willis.

_ E eu, doutor? Sou o garotinho?

 Ele me olhou fixamente durante alguns segundos: _ Na verdade, não. - Apertou os olhos e os lábios. Então abriu a boca, mas fechou-a novamente, desistindo do que ia dizer. Por fim, com a cara entre triste e resignada:

_ Você me deve trezentos e cinquenta reais. 

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