CONSCIÊNCIA >> Carla Dias >>

Deixando meu apreço pelas voltas e indo direto ao ponto: não, eu não confio em quem panfleta a favor da violência. E o cenário se torna ainda mais perigoso quando a violência é construída, torna-se projeto de vida, político, social. É imposta ao outro, a uma sociedade. Nela eu não confio.

Aos que defendem que somos um país jovem, que não temos rebeliões, revoluções e guerras suficientes no nosso currículo, por isso tudo bem se perdermos vidas inocentes no trajeto rumo às conquistas, deixo apenas uma opinião baseada em fatos: nosso país não precisa passar por todas as guerras que outros países passaram. Para isso serve a História... para observamos os acontecimentos e compreendermos erros e trabalharmos em acertos.

Não confio em quem é partidário do preconceito, estabelece quem merece e quem não merece o benefício que nem benefício é, trata-se de direito. Quem não preza pela cultura do outro, pela sua crença, pela sua busca, e assim fragiliza qualquer oportunidade de esse outro ascender e ocupar um espaço que, há muito tempo, vem sendo ocupado por oportunistas que se importam em nada com o coletivo. 

Esse é o meu ponto de vista. Já o chamaram de indecente, inocente, burro, hilário. Na conta dele, riram da minha cara, classificaram-me politicamente imprudente e socialmente idiota. Construíram um perfil para a minha pessoa, destacando a minha inflexibilidade para aceitar que melhor é trair a minha consciência e compactuar com tudo o que abomino.

Mas minha consciência não se entrega, não. Ela é dona de si.

Não quero desrespeitar a opinião de quem seja ao defender a minha. Por conta das opiniões alheias, aprendi a lapidar as minhas próprias. Não é por ter uma opinião que difere que me privarei de aprender com as de outras pessoas. Lembre-se que as diferenças são importantes. Por isso mesmo valorizo o meu pensamento. Nele não cabe eu ter de destruir uns para alcançar o melhor exclusivamente para mim. Não cabem soluções públicas para facilitar a minha vida privada. Não cabe humilhar e desqualificar o outro para que eu alcance um lugar melhor. Não vale descartar projetos que funcionam, por partidarismo ou falta de capacidade de se estabelecer uma fiscalização que os façam funcionar corretamente.

Para mim não vale a legitimação da violência e do preconceito. Não vale a perda de vidas na conta da violência e do preconceito. Eu não confio em quem panfleta a favor da violência, do descaso, do preconceito, da vida. E assim como não desrespeitarei a opinião alheia, nego-me a desrespeitar a minha própria.

Espero que possamos aprender, nós, a sociedade, que nem tudo na História precisa ser repetido exaustivamente, até alcançarmos a compreensão de que tudo bem fortalecermos a justiça, em vez de endossarmos e alimentarmos a violência do descaso e do poder acima de qualquer direito.

Vidas importam. Mesmo que muitas se percam durante as mudanças, não é seleção natural, tem nada a ver com evolução. É escolha política, é injustiça social, é impossibilidade de se defender.

Que saibamos aprender.

carladias.com

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