A GUERRA É UMA VAIDADE>> Carla Dias


Mantém um bom relacionamento com o silêncio. Sua batalha não se desenrola em bravatas ou atende à usura emocional. Não flerta com a perturbação de se provar capaz. Ela é diligente, tem a cadência do tempo do mundo, veste todos os seus andamentos.

Ser um na multidão não lhe causa qualquer espasmo emocional, apenas esmorece atitudes, as cala, com o fim de torná-las despercebidas. Não quer se tornar remanescente de probabilidades, gestor de desperdícios, tampouco desfrutar dos utensílios de um cotidiano de incertezas. Quer escolher e que suas escolhas prevaleçam; e elas serão certeiras, capazes de marcar, na história da humanidade, a sua passagem, e com a elegância de quem não esperneou na fila do reconhecimento. 

A guerra travada exige paciência para se expandir em vitória. A coreografia dos gestos orquestrados pela rotina se tornou uma lida contemplativa. Há de chegar o momento em que sua luta engravidará de prelúdio, esticando-se até alcançar o caminho inevitável. E ao chegar ao onde, poderá se despir das convenções e atualizar os desejos, desengavetar planos. E muitos o servirão sem o peso do questionamento, responderão ao seu poder com a diplomacia indispensável aos subalternos.

Não há noite em que não pense no dia em que olhará para o mundo como se reconhecesse um filho. E o educará, a sua semelhança. E o desafiará, na medida da sua visão. Tem esperança, mesmo se negando a dedicar a ela qualquer grau de confiança. Tem esperança, porque senti-la o desafia a ampliar o alcance de seu olhar; a coibir surpresas; a desqualificar a sedução inerente às buscas protagonizadas por sobreviventes. 

Sabe que o mundo há de aceitar a sua existência, e com gratidão, mesmo que tal aceitação seja gerada pelo medo. O mundo pensa diferente.  


carladias.com.br

Comentários

Nadia Coldebella disse…
Escreveu pra mim?
Estou aprendendo mesmo a andar com elegância, seguir o ritmo, silenciar e esperar o timing certo para que as minhas escolhas prevaleçam. Tem um ditado que diz: depois da hora mais escura da noite, vem o amanhecer. Mais que isso, é como disse Clarice Lispector: "Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome".
Coube como uma luva.
Bjs
Albir disse…
Todo mundo se reconhece nos personagens de Carla.
Zoraya Cesar disse…
"E ao chegar ao onde, poderá se despir das convenções e atualizar os desejos, desengavetar planos.". Isso aqui tá porreta demais. Isso aqui tá porrada demais. É a gente se reconhecendo e ansiando a cada ponto, cada vírgula. Mas é um canto de esperança. Esperemos, eqto continuamos andando.

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