O ANO QUE NÃO TERMINOU >> PAULO MEIRELES BARGUIL

Ele estava decidido a ter um ano novo inesquecível, o melhor da sua vida.

 

Na primeira quinzena de outubro, pesquisou durante 2 horas por dia, em fontes confiáveis, sobre as simpatias com maior grau de retorno.

 

O resultado dessa investigação foi uma lista delas, em ordem decrescente, de acordo o critério escolhido.

 

Em cada item, constavam os preparativos e a descrição minuciosa das etapas para realizá-lo no momento adequado.

Após exaustiva procura, comprou tudo o que precisava no mês de novembro em diferentes fornecedores.

 

No começo de dezembro, atualizou a sequência da lista, pois novos dados tinham sido divulgados.

 

Na segunda quinzena de dezembro, fez um criteriosa faxina em casa: todas as gavetas foram abertas, seu conteúdo foi retirado para possibilitar a limpeza plena e, depois, receberam de volta o que foi selecionado para continuar.

 

Na noite de 31 de dezembro, usou roupa branca, comprada especialmente para essa ocasião, e colocou dinheiro, uma cédula de R$ 20, no bolso esquerdo da frente da bermuda.

 

No bolso direito das costas da bermuda, estava a carteira com uma folho de louro.

Na ceia, degustou de lentilha e chupou, uma por uma, sete sementes de amora, as quais foram guardadas em um saco dentro da carteira.

Antes de se dirigir para a casa de amigos na beira do mar, soprou canela na porta da sua casa.

Na virada do novo ano, pulou, com elegância, sete ondas, todas elas com a altura mínima indicada pelos especialistas.

 

Depois, chupou, uma por uma, doze sementes de uva, que foram acondicionadas em um saco dentro da carteira, do lado oposto dos outros grãos.

 

Em todos esses anos, ela nunca estivera tão volumosa...

 

Ao voltar para casa, exultava de alegria e confiança, pois tudo tinha acontecido conforme o planejado.

 

Logo nos primeiros dias de janeiro, constatou que havia algo de estranho.

Ele estava ciente de que os resultados dos seus esforços não serem colhidos rapidamente, mas o motivo de seu desconforto era outro.

 

Aflito, conversou com uma amiga experiente em assuntos transcendentais e relatou o ocorrido.

 

O veredito dela foi desconcertante: o excesso de atividades desenvolvidas em prol da prosperidade causou um congelamento do campo energético, ou seja, ele não havia entrado no ano novo.

 

A solução indicada era austera e não o agradou: durante todos os dias, até o final de dezembro, ele precisaria seguir uma restritiva dieta baseada em atividades físicas frequentes, alimentação balanceada e dormida de 8 horas.

Ela ainda esclareceu que, se ele não seguisse cuidadosamente a prescrição durante os próximos 11 meses e 19 dias, a conjuntura continuaria assim para sempre, pois somente a persistência seria capaz de quebrar o poderoso feitiço produzido ingenuamente por ele.