GIRÂNDOLAS, MADRIGAIS, SUBLIMAÇÃO >> Sergio Geia

 


Eu lia. Aí me apareceu uma frase com ela: girândolas. A frase, da crônica Crônica de Natal, de Antônio Maria, era a seguinte: “Os foguetes, as girândolas, as chuvas luminosas, tudo era para me enganar. E eu, calado. Minha vidinha secreta e atenta já desconfiava do silêncio desdenhoso”. 

Girândola. Confesso que nunca tinha visto o verbete que me remeteu a girar, a algo que gira. Pensei, deve ser mais uma dessas belezas que sumiram do vocabulário nacional. Segundo o Houaiss, girândola quer dizer roda ou travessão onde são postos foguetes para serem queimados ao mesmo tempo; o conjunto desses foguetes quando sobem e estrelejam simultaneamente no ar. Que beleza!, pensei, e descobri por que o verbete sumiu de cena, recordando-me da igreja, dos tempos em que os foguetes eram disparados nas grandes festas. 

Outra beleza que pouco vejo ou ouço por aí: madrigal. Há uma música de Roberto Carlos, Meu Cachoeiro, onde ele cita o verbete: "A minha escola, a minha rua, os meus primeiros madrigais, ai, como o pensamento voa, ao lembrar a terra boa, coisas que não voltam mais!"

Há diversas acepções para esse madrigal: composição poética que exprime um pensamento fino, terno ou galante e que em geral se destina a ser musicada, segundo o mesmo Houaiss; ou uma composição poética delicada e graciosa cujo apogeu se deu no século XVI por toda a Europa, galanteio dirigido a damas, segundo o Michaelis; ou galanteio, cumprimento lisonjeiro, namoro, segundo o Dicionário inFormal. 

Um verbete muito bonito e mais contemporâneo é sublimação: ato ou efeito de sublimar, passar (uma substância) diretamente do estado sólido ao gasoso, na acepção química. Ou no sentido figurado, tornar-se sublime, enaltecer-se, engrandecer-se, exaltar-se. "A artista sublimou sua arte no fim da vida", como cita o Aulete Digital. Ou "A competição é uma sublimação da guerra", como diz J.M. Coetzee em seu Diário de um ano ruim

Outro dia, Álvaro Costa e Silva twittou, ao tratar do verbete fuinha, que há palavras em desuso que deveríamos resgatar. É uma boa ideia. Principalmente as bonitas, que fazem bem aos olhos e acarinham o coração.

Comentários

Darci Siqueira disse…
Vou usar em minhas poesias que ainda faço. Obrigado pela maravilhosa crônica.
Zoraya Cesar disse…
fuinha... eis um verbete bastante útil. que delícia, hein, Seu Sérgio? Um deleite, um regalo para os olhos e a mente.
whisner disse…
Anotei as palavras para usar em breve. Obrigado, Sergio.
sergio geia disse…
Grato, meus amigos! Alguns verbetes são deliciosos.
Nadia Coldebella disse…
Eu tenho uma certa fixação em palavras com E. Estabacar, p. ex. Estropiado. Esgualepado. Elas saltam as vezes não sei de onde e geralmente tem um som bizarro e engraçado.

Mas girândola e madrigais ( que não tinha ideia do que eram) são tão poéticas, quase musicais. E se vc não tivesse dito, eu apostaria que girândola era uma flor e madrigais campo de flores. Veja bem, sou pura sublimação!

Quero mais textos desse!

Gde abço.
sergio geia disse…
Nádia, adorei o sentido que você trouxe dos verbetes. E são musicais mesmo.

Postagens mais visitadas