NINA E OS TROVÕES >> Ana Raja
Dizem que acordar neste horário tem um significado. Eu não acordei por conta própria, então, posso esquecer as definições espirituais. Mas Nina tem pavor de trovão. Ela fica andando de um lado para o outro, quer subir na cama, no mesmo instante, quer descer, não encontra um lugar e nem uma posição confortável. Me levanto e vou para a sala com ela em um dos braços, e no outro, o travesseiro e a coberta. Me acomodo no sofá com aquele ser indefeso. Não consigo dormir, nem ela.
Nina quer fugir, mas não sabe para onde. Fica em pé na frente da porta, me olhando, com a respiração ofegante, a língua estranhamente vermelha. Arrasta as unhas na porta. Eu a pego no colo e tento explicar que os trovões moram no céu e lá fora o perigo é real. Volto para o sofá. Passo as mãos em seu corpo, faço cafuné, beijo, abraço, sussurro palavras de conforto em seus ouvidos. Ela parece se acalmar, até outro trovão nos assustar com o seu grito fora de hora.
Assim atravessamos o resto da madrugada. Tenho a impressão que ela está com sede e com calor. Ofereço água. Ligo o ar-condicionado para refrescar o sangue quente de Nina. Começo a sentir frio. Ligo a TV. Vou mudando de canal, escutando as primeiras notícias do dia que insiste em raiar.
Seis horas da manhã, ela finalmente se aquieta ao meu lado. Acho que está com frio, mesmo sendo peluda. Cubro seu corpo com a minha coberta, ela lambe meu rosto. Não demora, dormimos ao som de uma chuva mansa.
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