QUANDO O RISO EMPERRA >> Ana Raja


corre na lagoa rodrigo de freitas e tem risada debochada

é divertida

afunda os pés na areia da praia num domingo ensolarado

mergulha na piscina da casa em paraty

faz hidro-eu 

— hidroginástica na companhia dela mesma —

no condomínio do prédio em que mora

depois do pilates uma casquinha do sorvete favorito

às vezes um cachorro quente ao terminar a caminhada

faz tantas coisas que até deus duvida

eu não saberia ser ela

genial

manda memes de madrugada enquanto procrastina uma tarefa

o dia frenético reverbera em seus ouvidos

as palavras que ouve durante o dia

ressoam no travesseiro ansioso por afagar seus pensamentos

tem sotaque bom de ouvir

sabe aproveitar as delícias que lhe são ofertadas

é contra o desperdício 

é justa

e isso me fascina

detesta todas as pessoas que eu detesto

fala bem de mim e me defende abertamente

tem as mãos bonitas

segura firme a caneta e desenha as mais belas palavras

em papeis quaisquer

os cabelos em ondas contam a ela os segredos da vida

é diferente 

não que seja mais do que as outras

outras

por favor não me entendam mal

nem sintam ciúmes amigas

é que ela me entende

mesmo quando eu não me entendo

e rimos juntas disso

mesmo em dias em que o riso emperra 

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As dores delas, primeiro livro de Ana Raja, está a venda no www.editoraurutau.com.

anaraja.com.br

Comentários

Jander Minesso disse…
Me lembrou alguém. E também me lembrou algo óbvio, mas que às vezes a gente esquece: sem amigos (e música), a vida seria um erro.
Permitam-me um pouco de vaidade, deixem-me confessar: essa amiga sou Eu! Não é possível silenciar diante de uma crônica que é mais bela e poética do que a própria inspiração. Te amo, amiga! Por tudo e por tanto.
Soraya Jordão disse…
Não canso de ler essa crônica.
Zoraya Cesar disse…
Amizade-amor é a coisa mais linda do mundo. Parabéns às duas! E agradeço por compartilhar. Sempre bom ver um pouco de amor aqui e acolá. Sempre bom conhecer uma pessoa (a Soraya) pelos olhos amorosos de uma amiga, alguém que nos vê como nem nós mesmas nos vemos!
Albir disse…
Deu vontade conhecer, Ana! Que linda homenagem! Se eu fosse ela, tatuava esse poema.
Nadia Coldebella disse…
Dizem que amigo é um entre um milhão, uma agulha no palheiro. Mais legal ainda é ver o amigo se reconhecendo. Tbm quero.

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