SOBRE A MOÇA QUE MORA AO LADO << SORAYA JORDÃO
A verdade é uma mulher avessa a recatos. Por mais que insistam em criá-la tímida, antissocial ou reclusa, ela teima em se mostrar.
Anseia com ardor o instante de desnudar-se diante do olhar estupefato do observador.
De natureza selvagem é dotada de poderes extravagantes: demolição e renascimento; assombração e amuleto; violência e salvação; causa e cura de dores profundas.
Determinada, meticulosa e indomável, a verdade cava brechas, vielas, esquinas, de onde delata, maltrata e liberta.
Caminha nua. Entregue, vulnerável, oferecida. Muitas vezes, rejeitada. Exuberante e exibida.
Mulher de longas pernas e passos que gritam rastros. Dançarina sedutora.
Quem nunca perdeu o fôlego diante de um strip-tease da verdade?
Quem nunca ousou amordaçá-la e sentiu a força da sua mordida?
Quem nunca tentou ludibriá-la?
Sorrateira e vingativa, a ordinária sempre arma o bote e assume o seu lugar.
Ninguém consegue enganá-la por muito tempo. Aí estão os amantes, os sedutores, os salafrários que não me deixam mentir.
Ainda bem!
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