SÓ PARA CONSTAR >> André Ferrer

As minhas primeiras lembranças carnavalescas são repletas de vergonha alheia. Naquela época, a expressão vergonha alheia não existia, evidentemente, mas o espírito da coisa sim. Eu não queria estar no lugar daquelas pessoas. Eram os anos de 1980 e, desde então, eu procuro por uma solução perfeita para o Carnaval. De preferência algo melhor do que simplesmente não participar dele.

Na falta de algo assim, já tentei e tento várias coisas que, no mínimo, deixem-me alheio a toda essa alegria forçada. Basicamente, evito pessoas com inclinações foliãs. É uma das saídas mais fáceis porque é fácil identificar um bobo alegre. Invariavelmente, ele é assim sem a ajuda de álcool e drogas. No Carnaval, fica insuportavelmente pior. Acredita que o Universo é “a” justificativa para tanta idiotice.

IMAGEM: PxHere

Retiro espiritual? De jeito nenhum. Por razões óbvias (principalmente para quem me conhece), jamais entraria numa roubada ainda maior do que o Carnaval. Ora! Há muito barulho nesses encontros e, muitas vezes, até samba! Um atabaque evangelizado capaz de horrorizar o mais amador dos antropólogos.

De fato, uma viagem internacional poderia ajudar, mas atenção! O destino precisa ser escolhido com acuidade científica. Há brasileiros em todo o mundo. O suor, as plumas e aquele jeito retardado de sorrir para o tamborim podem até perder a intensidade, mas estarão lá. Cuidado!

Tirante uma viagem para a Lapônia, é quase impossível fugir da vergonha alheia em fevereiro. Nos últimos anos, tenho apostado num reforço: o clima. Sim. Um aliado esquizofrênico pode ser de muita serventia.

Já pensou num friozinho antes do Carnaval só para abaixar um pouco esse terrível ânimo? Afe! Ninguém merece brasileiro animado por causa de uma coisa tão inútil e, como se não bastasse, embaixo de um calor dos infernos. Nada mais anti-Carnaval do que frio e chuvinha fina. Amém!