O BRABO >> SORAYA JORDÃO


 

Viver é uma ação delicada, complexa, árdua e, por vezes, confusa e intrincada. Não bastasse a necessidade de organização, planejamento, controle das emoções, motivação contínua para conquistas e superações e clareza de propósito, cobradas de todo vivente que precisa pagar a conta afetiva de ser bem-sucedido, esbarramos, na contramão, com o destino, garoto mimado e emocionalmente instável, que vez por outra cisma de fazer pirraça no meio da praça.

Quem nunca viu o destino se jogar no chão, espernear e se recusar a cumprir o que lhe pedimos?

Sem aviso, o marrento larga a nossa mão e sai correndo pelas vielas do azar, atravessa a avenida movimentada do acaso, sem se importar com o sinal vermelho. Enquanto isso, nós, cuidadores do menino temperamental, ficamos ali, estarrecidos, insones, presos num pêndulo que desliza entre a alegria e a decepção. 

Quem já sentiu a corrente do medo viajar pelo corpo antes de descobrir se o destino acordou sorridente ou vingativo naquele dia tão esperado?

Nas últimas férias, em janeiro, passei por isso. Ele estava raivoso, intolerante, teimoso, pirracento. Quanto mais eu tentava agradá-lo, convencê-lo da nossa amizade e parceria, mais ele aprontava, montava arapucas. 

Só quando aceitei a minha impotência para dominá-lo e decidi entubar sem questionar sua má vontade comigo é que o danado me sorriu.

Disso, tirei uma aprendizagem: se ele faz birra, implica ou me sacaneia, eu foco em outra coisa, finjo que não ligo, deixo ele de lado, e o indigesto logo corre atrás. 

Existem ruas que se desenham a partir de caminhos que se fecham.

Comentários

Ana Raja disse…
E vamos brigando contra o que não temos controle!
Soraya Jordão disse…
esmurrando, @ana Raja. kkkk
Jander Minesso disse…
Baita lição. Talvez enxergar o destino como uma criança birrenta e não como um tirano ajude mesmo a gente a viver com mais leveza.
Soraya Jordão disse…
@jander, amei a reflexão.
Albir disse…
Concordo com o Jander, "criança birrenta" melhora. É que às vezes ele traz tatuado na testa "tirano".
Zoraya Cesar disse…
que diferente e sábia reflexão, Soraya! A gente custa a aprender q nao tem como domar o indomável, e o melhor é apreciar a vista eqto o barco segue. Sua descrição sobre o que o menino birrento faz foi supimpa!
Soraya Jordão disse…
Sim,@Albir, concordo. Já encontrei o tirano em alguns momentos.
Soraya Jordão disse…
Obrigada, Zoraya! Nas minhas férias de janeiro, ele pintou o 7. Levei dias tentando digerir. rs.
Anônimo disse…
Amei♡
Sarita disse…
E vamos lutando e entendendo que nem sempre temos o dia de amanhã em nossas mãos!

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