O MATERNAR NUNCA É LIVRE >> Clara Braga

E, só para não variar, temos polêmicas maternas no carnaval. 

O carnaval levanta tantas questões interessantes, é uma manifestação cultural tão rica que eu acho quase inacreditável que a maior preocupação das pessoas seja: como Gabriela Prioli tem coragem de ir para a Sapucaí sendo que sua filha tem apenas 2 meses?

Ninguém questionou o que o pai da recém nascida estava fazendo por lá, mas ela já foi taxada de tudo, até de ser má mãe.

Me pergunto por que as pessoas se "preocupam" tanto com a filha de uma pessoa com condições de ter rede de apoio paga e não paga, mas não se preocupam com as mães que há anos não conseguem se quer sair para jantar com as amigas por não terem rede de apoio. Será que esse tipo de privilégio não deveria estar sendo discutido?

Me questiono por que ela estar ali se divertindo, mas também à trabalho, incomoda mais as pessoas do que as mulheres que não conseguem ter uma licença maternidade digna e, quando voltam à trabalhar, ainda perdem seus empregos. Afinal, o que a sociedade espera das mulheres mães, que elas trabalhem ou não trabalhem?

A recomendação da OMS é que os bebês sejam amamentados exclusivamente até os 6 meses, pois isso irá prevenir diversas doenças, fará com que essas crianças cresçam com mais saúde e diversos outros benefícios que não são exatamente o objetivo dessa crônica listar. A filha da Gabriela Prioli, ela indo ou não para a Sapucaí, continua sendo amamentada e seguirá a recomendação da OMS. E as mulheres que trabalham em empresas particulares que apenas tem direito a 4 meses de licença? E as autônomas que se quer terão algum direito, será que essas irão seguir uma recomendação de saúde com esse nível de importância?

Sinceramente, quando vejo pessoas parando suas vidas para criticarem uma mulher mãe por se divertir e não moverem um dedo para garantir saúde mental para todas as outras mães que não tem iguais condições à das famosas, só penso uma coisa: ou é pura hipocrisia, ou a pessoa está morrendo de inveja porque também adoraria estar ali na sapucaí vivendo aquela experiência.

Eu, quando meu filho tinha 2 meses, só pensava em dormir. Não tinha vontade de estar em nenhum outro lugar que não fosse a minha cama. Mas que bom que existem mulheres diferentes de mim, afinal, o maternar é isso, cada uma encontra a sua forma de fazer dar certo, se não, fica todo mundo doido.


Comentários

Nadia Coldebella disse…
Não sei o que cabe a cada um. Sei o que cabe a mim.
Ser mãe envolve uma série de escolhas que sempre vão ser contestadas nesse mundo de receitas prontas.
Seu texto é bem pertinente porque vc traz uma critica sabia: a da responsabilização completa da mãe e a da exclusão do pai.
Muito bom, Clarinha!
Zoraya Cesar disse…
Clarinha e a doçura dela falando de temas profundos. O comentário da Nádia me lembrou dquela fábula "o velho, o menino, o cão e o burro'. Final da história: danem-se todos, eu sei o q é melhor pra mim.

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