12 DE OUTUBRO, O PREÇO DO QUEIJO, ELEIÇÕES E ALGUMAS ABOBRINHAS >> Sergio Geia

 


O 12 de outubro amanhece branco. A pobre bandeira de Taubaté, tremulando no alto do relógio parado da CTI, é tão branca que parece azul desbotado: neblina. É triste ver a bandeira de Taubaté tremulando sobre um relógio parado; logo vira meme. 

A Marechal Arthur aqui embaixo, que depois que as competentes autoridades de trânsito taubateanas criaram um descabido sinal três tempos num cruzamento (com a professor Moreira) que repele um sinal três tempos, diferente do dia útil, que virou uma barbárie de carros se bicando, hoje assiste à preguiça em movimento; não vejo carros, vejo senhorinhas com seus xales pretos indo para a igreja. É dia de rezar, é dia da padroeira do Brasil. O sino bate a chamar os crentes. Não vou. 

Papel e caneta em mãos, abro a geladeira. Batata, cenoura. Requeijão, ketchup, maionese, ovos, o freezer vazio. Anoto frango, carne moída, salsichas. Sobra espaço na gaveta da despensa. Arroz, café, creme de leite, guardanapo, óleo. Vou ao tanque: amaciante, sabão, detergente, desengordurante. A lista vai se formando, e se formará em dias, enquanto as lembranças de um ou outro produto ainda têm forças para ganhar do esquecimento. 

A propósito: viram o preço da muçarela? Mais cara que o presunto, que o peito de peru. Outro dia o quilo exigia a bagatela de R$ 75,00. Final dos tempos, pensei. A gasolina, o salame, a cebola. Se bem que a gasolina agora baixou, mais de 30%, ouvi no jornal. Bem a calhar, com a eleição batendo à porta; quero ver depois. 

Por falar em eleição, foi só revelar meu posicionamento que a revelação me rendeu xingamentos e comentários agressivos nas redes, isso no meu perfil e não no deles; tempos sombrios. Tive que excluir vários, bloquear alguns, as pessoas passam do ponto. É tanta barbaridade, textinho superficial apanhado em página duvidosa, mas me aguento, penso, deixa pra lá, não invada perfil alheio; senso de respeito. Estou ao lado de gente como Frei Betto, Padre Júlio Lancellotti, Juca Kfouri, José Trajano, Jonathan Teixeira, Nicodemos Sena, Pietra Costa, Maria Ribeiro, Chico Buarque, Gilberto Gil, Djamila Ribeiro, Antonio Prata, Alvaro Costa e Silva e tantas outras referências para mim; isso me basta, me acalma, me alivia, me enche de certezas. 

Nunca foi tão simples decidir, sem contar que sou afeto à pauta progressista. Vejo alguém que olha com os olhos do oprimido; do outro lado, alguém que olha com os olhos do opressor, desse olhar, o projeto político de cada um. 

Saio para caminhar, encontro alguns queridos. O Guido sempre vejo passeando pela praça, filho do Guido Salles, grande amigo. O Apolinário, que descubro colecionador de álbuns de figurinhas da Copa, brinca como uma criança na praça cheia delas. O Alex. Foi o sol, Alex. Não foi esquecimento, ou a idade. Registrado? Não deixe o Nilton saber. 

O solzinho, pálido pela manhã, é forte quando chego em casa. Forte a brilhar nas montanhas, nos rincões deste país, enchendo a gente de gás e esperança. 

Amanhã é 13, penso, que chegue logo o amanhã. 


Ilustração: Pixabay

Comentários

Zoraya Cesar disse…
Como admiro a sutileza de seus textos, e sua capacidade de mudar de um assunto para outro sem mudar o tema!
Anônimo disse…
Que texto necessário! Denso e sútil ao mesmo tempo!
Que chegue logo amanhã!
sergio geia disse…
Minha querida Zoraya, mais uma vez obrigado. Amigo leitor anônimo, agradecido pelo comentário; lisonjeado. O amanhã chegou rsrs.

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