SOBRE DIÁLOGOS, CONVERSAS, BATE-PAPOS E AFINS >> Fernanda Pinho



Tem uma frase que diz que devemos nos casar com alguém com que gostamos de conversar, e o texto segue dizendo que tal característica será muito importante quando a juventude tiver se esvaído e restar apenas bons momentos de conversa.

Eu sempre gostei muito desse texto e foi determinante perceber, logo quando conheci meu marido, o quanto eu gostava de conversar com ele. Claro, separados por uma distância de mais de três mil quilômetros, o único que nos restava - ainda que com muita juventude e todas as vontades inerentes a ela - era conversar. E como conversávamos. Teve uma fase que eram praticamente umas 16 horas por dia. Sério. Só não falávamos um com o outro enquanto estávamos dormindo, obviamente. Mas todas as outras atividades conseguíamos conciliar com os diálogos apaixonados, repletos de planos e revelações entusiasmadas. 

Em alguns momentos houve um certo temor, ao menos da minha parte, de que faltasse assunto durante nossos encontros no mundo real. Que nada. Quando duas pessoas gostam de conversar e se interessam pelo que o outro tem a dizer, nunca faltará assunto (ainda que, a princípio, ambos apenas arranhem o idioma do outro). 

A única coisa que eu mudaria, portanto, no texto que me trouxe a essa crônica, é que a necessidade do bom papo não surgirá apenas quando a velhice bater à porta. Dependendo da dinâmica do casal, pode vir a ser fundamental bem antes. Em relacionamento a distância, por exemplo, se não tiver conversa, não tem relacionamento.

São as conversas que irão preencher as horas numa longa viagem de carro, o tempo de espera num aeroporto ou numa fila de supermercado, o tédio de um domingo à tarde, a agonia de esperar um resultado, a ausência de outras pessoas. E sempre, sempre haverá o que dizer.

Outro dia eu e meu marido inventamos um jogo. Bem, eu inventei um jogo e ele embarcou. Consistia em cada hora um dizer uma palavra aleatória e o outro ter que contar alguma lembrança de sua vida que remetesse àquela palavra. Quando ele me deu a palavra “muro”, descobriu como eu me senti quando subi no muro da casa que eu morava quando criança e uma lagartixa se agarrou na minha perna, gerando o pavor que, até hoje, eu tenho do animal. Quando eu o dei a palavra “chave”, descobri como ele se sentiu adulto quando, aos 16 anos, ganhou a chave de casa dos pais. Poderíamos fazer bodas de diamantes sem conhecer essas pequenas histórias um do outro. 

Mas essa não é a graça. A graça é continuar praticando a conversa mais e mais e, quando for da vontade de um dos dois - ou de ambos - passar horas em silêncio, sem nenhum tipo de incômodo, no mais absoluto conforto. 

Comentários

Gostei da brincadeira! Vou fazer isso também! rs
Acho que a conversa é importante em qualquer relacionamento, principalmente quando flui naturalmente.
Paixão é mesmo essa eterna revelação de palavras e silêncios.
Zoraya disse…
Fernanda, você disse tudo. Já passei pela experiência de amar uma pessoa com a qual não tinha assunto. Estranho, né? Não deu certo, claro.

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