PREPARANDO A TELA >> Clara Braga

Todos os dias, quando acordo, me pinto de branco para começar a pintar o dia. É com uma frase mais ou menos assim que começa o espetáculo Corpo sobre tela. Ao longo da performance, acompanhamos, entre outras coisas, a angústia do ator em encontrar aquela cor que o representaria, aquela que seria a sua cor.

Achei isso tudo um tanto poético, afinal, será que não podemos interpretar essa questão como uma metáfora para uma angústia universal? O que faz nossos olhos brilharem? O que nos faz feliz? O que nos move? Qual é a nossa cor? Estamos sempre nos perguntando isso. E quando não somos nós nos perguntando, os outros se encarregam de fazer isso. Aposto como você perdeu as contas de quantas vezes respondeu à pergunta: o que você quer ser quando crescer? Essa pergunta nada mais é do que uma forma mais direta de perguntar quase a mesma coisa.

Acredito que os adultos fazem essa pergunta pois na resposta encontram a inocência e a sinceridade que já não se dão ao luxo de ter. O que não percebem é que ao fazerem isso, estão fechando portas que não precisavam estar fechada.

As pessoas buscam sua cor, mas estão cheias de padrões que as vezes não lhes permitem enxergar a beleza de uma cor mais opaca. Porque todas as cores têm que brilhar? Porque têm que ser cores primárias? Qual o problema de uma boa mistura? E se ficar feio, porque não pintar de branco de novo? Vai ficar manchado? E quem disse que uma manchinha aqui e outra ali não tem o seu charme?

São tantas questões, dúvidas, medos, que as pessoas esquecem de um detalhe, que pode ser só um detalhe, mas que muda tudo: para pintar o mundo e se pintar, você tem que preparar sua base antes, ou seja, nunca se esqueça de se pintar de branco todos os dias. Se permita dias mais coloridos e seja a cor que você quiser. Uma vez me disseram: você pode ser o que quiser, desde que seja sincero. E eu acreditei.

Comentários

Linda mensagem Clarinha.
Sinceridade é só para os fortes.
Parabéns!
Bj
Ceiça

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