NAS ALTURAS >> Ana Raja
Olhando pela janela do sexto andar, me sinto confortável na minha bolha-lar. Aqui, nas alturas, observando as folhas das árvores trazidas pelo vento — quase consigo tocá-las —sonhando com dias de bom agouro, e posso elaborar planos, emoldurar os resultados e me aninhar em braços de quem me ama. Virginia Woolf dizia: “uma mulher precisa ter dinheiro e um teto todo seu, se ela quiser escrever ficção”. Da minha bolha, vejo todos os dias, na realidade da rua, uma mulher jovem com o seu filho de mais ou menos dois anos. Um pouco de sol, brinquedos e uma curta caminhada é a rotina na agenda dessa mãe. Ela mora no primeiro andar, perto do chão, com os pés mais na terra do que eu, habitante do último, com a cabeça nas nuvens. Será que somos tão diferentes? Os pássaros me contaram que ela se dedica exclusivamente à casa. Como observadora das alturas, acredito ser exaustiva essa rotina. Ao escolher se doar dessa forma, de alguma coisa a mulher abriu mão. Escolhas e consequências? Minha cabe...