NOVEMBRO >> JANDER MINESSO
– Tá tudo bem. Desde que entrara no carro, aquela era a única frase que saía da sua boca. Mas ficou em silêncio por quase todo o trajeto, se despedindo das luzes noturnas de uma cidade que mal reconhecia. Depois de oitenta e cinco anos, tinha os olhos de uma criança estrangeira. Não estava tudo bem. Horas antes, agonizava na própria cama, procurando espaço para o ar entre o tumor e os anos trabalhando em meio ao pó. O que menos queria era voltar para o hospital. Esbravejou contra a insistência da família tanto quanto pôde. Dizem que a gente sabe quando é a última vez que veremos nossa casa. Acabou cedendo. Os filhos fizeram a mala, ele foi colocado no banco de trás e partiram. A nora dirigia e o caçula o vigiava. Ele olhava pela janela, fazia um sinal de joia com a mão e, vez por outra, insistia que estava tudo bem. Entrou direto pela emergência por causa da falta de ar. De madrugada, o pronto socorro dava quase uma sensação de paz. Precisou de ajuda para mijar uma ou duas vezes,...




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