O "ADULTECER" E SUAS MÁSCARAS >> Clara Braga

Essa semana fomos informados pela síndica do prédio onde moramos que os vizinhos estão reclamando dos gritos do meu filho de um ano e meio.

Curiosamente, isso aconteceu dias depois de eu estar brincando com meu filho embaixo do prédio após uma chuva. Ele se encantou com uma poça de água e começou a gargalhar enquanto pulava na poça e se molhava todo.

Uma moradora do prédio passou e, ao ver a cena, sorriu e disse: a gente esquece que é preciso muito pouco para ser feliz.

É verdade, eu diria que um dos sinais de que estamos "adultecendo" é justamente a perda da habilidade de ver beleza nas pequenas coisas.

Mas as crianças estão aí, com suas gargalhadas intensas e espontâneas nos convidando a pausar e olhar de novo para as coisas que, por algum motivo, não nos chamam mais a atenção.

Acontece que as crianças, quanto mais novas são, não são intensas e espontâneas apenas nos momentos felizes, elas também são intensas e espontâneas nas frustrações e nas dores. E é nesse momento que elas nos convidam a olhar para outra habilidade que nós vamos perdendo no processo de "adultecer": a empatia.

É claro que, á princípio, essas pessoas que reclamam de um bebê que grita e chora porque os dentes estão nascendo ou porque ele queria enfiar o dedo na tomada e os pais não deixaram, não dizem que estão de fato se sentindo incomodadas, elas dizem estar preocupadas com o fato do grito intenso parecer que ele está sofrendo maus tratos.

Mas a preocupação é tanta que, quando nos colocamos á disposição para conversar com essas pessoas, explicar o que está acontecendo (embora pareça óbvio), conhecer essas pessoas para que elas vejam que não faz sentido achar que somos uma família que mau trata crianças, essas pessoas somem.

Ninguém quer conversar, ninguém quer entender, as pessoas querem apenas reclamar, afinal, essa é uma habilidade que a gente só aprimora.

Bom, mas a essas pessoas que não conseguem ter empatia com o grito e o choro de dor de um bebê, eu digo apenas: que pena. 

Que pena que você tenha ouvido para se incomodar com um grito, mas não tenha ouvido para rir com a risada dele, pois ele ri o dia todo.

Que pena que você tenha ouvido para acreditar que meu filho está sendo mau tratado, mas não tenha ouvido para ouvir os gritos de satisfação dele quando brinca com o irmão mais velho.

Que pena que você tenha ouvido para julgar que um bebê está sendo inconveniente,  mas não tenha ouvido para ouvir ele imitando os diversos animais que está começando a conhecer.

Que pena que viver em sociedade seja tão difícil para você, mas aqui em casa criança nenhuma vai ser reprimida ou julgada como inconveniente por estar demonstrando da forma imatura como ela consegue que algo a está incomodando.

A falta de empatia mascarada de preocupação é tão infantil quanto o choro de frustração por causa da banana que está amassada e ele queria comer inteira, com a diferença de que o choro e a frustração estão de acordo com o desenvolvimento neurológico da criança...  

Comentários

Zoraya Cesar disse…
o adultecer realmente nos torna empedernidos. que sorte a da sua vizinha que pôde ver uma criança feliz. Aposto que isso iluminou o dia dela. Quanto aos outros... bem, eles passarão, vcs, passarinho.
Albir disse…
Creio que o tamanho da empatia serve para determinar o tamanho da humanidade.

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