#FIQUEEMCASA > whisner fraga


nem sempre é trivial o deslocamento em uma megalópole e, por esta razão, muitas vezes recorro ao transporte particular,

apesar dos tempos,

vinha de ré, a despeito da birra sobre esse andar para trás, 

mas ia de ré, porque não havia outra saída e, sabedor de inevitabilidades, pedi para instalarem um sensor escandaloso, que me avisa quando algum objeto está prestes a tocar a rabeira do veículo,

é o que está no manual: objeto,

mas pode ser gente também, dada a extensão de significados desta palavra abrangente,

e vinha uma pessoa, naquele instante,

foi o sensor se esgoelar e eu cravar o pé no freio, 

quando ouvi um grito,

será que o aparato falhou e findei por atropelar algo vivo?, 

mas não, tudo funcionou como constava no manual, como esperado, aliás, ainda que o dispositivo fosse nacional,

então o berro?,

um homem vinha para cima da porta do humilde clio, cerrei a janela, por via das dúvidas, mas ainda escutei um "se pegasse em mim eu ia arrebentar você e o carro inteiro" e, a julgar pelo tamanho do sujeito, era de se crer capaz de tais proezas, 

como é sempre do meu feitio, a covardia acima de tudo, a ingestão de sapos acima de todos, me adiantei nos pedidos de desculpa,

infelizmente, não foi o bastante,

algumas vezes cães que ladram não mordem: para minha sorte, foi o caso,

o sujeito continuou esbravejando e, não obstante o público que se formava em torno, com crianças, inclusive, recorria a palavras nada pomposas para as quatro da tarde,

esperei o show esfriar um pouco, engatei primeira e me mandei pra casa, fisicamente intacto,

aqui, após estacionar o pequenino, decidi que o mais seguro é sair menos, permanecer no conforto do lar, sabe-se lá que monstros podemos achar nas ruas, nestas épocas insensatas.


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A imagem foi retirada do Pixabay, sem pedido de menção de autoria.

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