APENAS SETE DÉCADAS >> Clara Braga

Essa semana soube que após sete décadas, o concurso Miss Universo vai aceitar mulheres casadas, divorciadas, grávidas e mães. Ou seja, vai aceitar mulheres.

Percebi que, por ignorância minha, enquanto as pessoas celebravam a mudança como uma grande evolução, o que de fato é, eu me chocava por estar conhecendo tais regras pela primeira vez, até porque as únicas coisas que eu sei sobre concursos de beleza, eu aprendi assistindo à Pequena Miss Sunshine.

Demorei pra entender e processar a notícia, e acabei precisando fazer umas pesquisas. Primeiro pesquisei o que é o Miss Universo e, para a surpresa de zero pessoas, o Miss Universo é um concurso de beleza. Mas não me dei por satisfeita, me recuso a acreditar que em 2022 exista um concurso que relacione a beleza ao estado civil da mulher ou à maternidade, aliás, eu diria que a galera do Miss Universo está precisando conhecer umas mães por aí!

Então, segui com a pesquisa e fui tentar entender qual é a função de uma Miss Universo, afinal, ela deve ter uma função extremamente importante e diferente para justificar não poder estar casada nem ter filhos. Descobri que, de fato, ela tem obrigações sociais, a Miss Universo deve “apoiar causas sociais, apresentar a cultura de seu país para o mundo e ser exemplo para outras mulheres, não só de beleza, mas empoderá-las para que sigam seus objetivos"!

Quando li a palavra empoderamento nesse contexto, não consegui não rir. O que há de empoderado em ser uma mulher que se quer pode decidir o que vai fazer de sua vida pessoal?

Segui com minhas pesquisas motivada pela revolta e fui tentar entender quem são as pessoas que definem essas regras. Encontrei a entrevista da nova CEO que anunciou tais mudanças. Ela disse que a equipe fez umas pesquisas e decidiu implementar essas mudanças quando a resposta esmagadora dos participantes foi: "nós acreditamos que as mulheres devem ter controle sobre suas vidas e que decisões pessoais do ser humano não devem ser uma barreira para seu sucesso." 

Sim, essa entrevista é desse ano, não de dez anos atrás.

Sei que a decisão é uma conquista e deve ser celebrada como tal, mas fico pensando: se levou mais de sete décadas para a galera do Miss Universo chegar a essa conclusão, quanto tempo não vai levar para o resto do universo entender a mesma coisa? 

Bom, só sei que já decidi que vou acompanhar a edição do Miss Universo 2023 e espero que a organização se surpreenda com a quantidade de mães maravilhosas e empoderadas que eles vão conhecer. Aliás, eu sugeriria que no momento da apresentação uma das mães colocasse um vídeo seu parindo, aí a gente começa a conversar novamente sobre beleza e empoderamento.

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