ORAÇÃO >> Sergio Geia
Não sou agnóstico ou ateu. Rezo, peço — aliás, sou um bom pedinte —, e também agradeço. Tenho o meu Deus e com ele desfruto de certa intimidade; devoto do pequenino de Assis e de Santa Teresinha.
Naqueles tempos, ela costumava cantar nas missas de domingo. Era pequena, não mais que um metro e meio, parecia frágil, tinha um vozeirão. Nos encontramos outro dia, ela no ponto de ônibus esperando a condução pro trabalho, eu na minha caminhada matinal. Fazia décadas que não nos víamos, não tinha certeza se lembraria de mim. Lembrou. Quando me aproximei, ela sorriu e me desejou um bom-dia.
Na outra vez, a mesma coisa; e na outra. Até que certo dia, ela perguntou sobre o meu pai, o ponto de ônibus cheio, eu, na minha caminhada acelerada, já a alguns metros de distância dela. De longe, respondi sem muita convicção que ele vai bem. E desde então, quando me vê, além do bom-dia, pergunta sobre meu pai.
Acontece que meu pai morreu em 2003. Acontece também que ela sequer conheceu meu pai. Conhecia meu tio, que também tinha funções na igreja. Ela queria saber dele, decerto. Mas o ponto de ônibus cheio, como explicar a situação na frente de tanta gente? Era um constrangimento que eu não queria experimentar.
Confesso a você que para aliviar um pouco o peso da consciência, entendi que mais que uma resposta, o vai bem é um desejo. E mais que um desejo, uma oração, um pedido para que ele, meu velho pai, esteja bem.
Outro dia, no entanto, um fato inusitado. Depois de saber que meu pai continua na mesma, ela mandou-lhe um abraço.
Senti uma alegria suave, depois olhei o céu, tentando encontrar um sorriso conhecido em meio a tanta nuvem, uma bobagem.
Ilustração: Pixabay
Comentários
Te juro que vi seu Pai nessas conversar.
Querido primo Luis Carlos .
Você será sempre lembrado nas
Você será sempre lembrado nas crônicas de seu filho que escreve e nos encantadora. Descanse na Paz do Senhor.