O DESAPARECIMENTO DE ANA >> André Ferrer

Ana, 20 anos já, sonhava em se tornar uma influencer digital famosa. Inspirada pelos vídeos e fotos de suas criadoras de conteúdo favoritas, imaginava uma vida cheia de glamour, viagens incríveis e produtos de marcas renomadas. Passava horas planejando postagens, escolhendo filtros e ensaiando poses no espelho, convencida de que, com dedicação, poderia transformar seu perfil em algo grandioso. Para ela, ser uma influencer era mais do que ganhar seguidores; era uma forma de mostrar ao mundo sua criatividade e viver algo extraordinário.

IMAGEM: ChatGPT

No entanto, à medida que Ana mergulhava nesse universo, começou a sentir o peso de manter uma imagem perfeita. Seus posts precisavam ser cuidadosamente editados, e ela se preocupava se sua vida cotidiana, com seus altos e baixos, seria interessante o suficiente. Ao conversar com seus seguidores, percebeu que, muitas vezes, suas respostas eram mais estratégicas do que sinceras, buscando agradar ou conquistar mais engajamento. Entre filtros e hashtags, Ana começou a questionar se estava compartilhando quem realmente era ou apenas uma versão idealizada de si mesma, moldada para agradar os outros.

Essa reflexão trouxe um dilema que Ana não podia ignorar. Ela amava o alcance que as redes sociais ofereciam para expressar suas ideias e se conectar com pessoas de diferentes lugares, mas não queria sacrificar sua autenticidade em troca de números na tela. Decidiu, então, mudar sua abordagem: postava momentos genuínos sem filtros excessivos ou preocupação com perfeição. Deixou de se importar tanto com as expectativas alheias.

Ana sentiu-se melhor a princípio. Depois de alguns dias, achou que havia algo estranho: era como se estivesse ausente! Duas ou três semanas depois, Ana sequer existia.

Comentários

Soraya Jordão disse…
Adorei! Tenho pensado muito nesse preço.
Zoraya Cesar disse…
Sem o olhar do outro, é como se não existíssemos, parece que sempre precisamos de algum tipo de validação. Tudo bem qd é parte do nosso universo, o problema é esse da Ana: só existir quando desconhecidos validam nossa existência. Muito bom, Ferrer, como sempre.
Albir disse…
Desligou-se ao desligar a câmera.
Muito bom, André!
Nadia Coldebella disse…
Sempre achei q o terror da existência era deixar de existir. Pensava: por isso inventaram a vida após a morte? Depois inventaram as redes sociais. Agora me pergunto se existe vida após a rede social. Imagino que deixar os likes de lado deva ser um tipo de morte também. Em q tipo de céu estará Ana agora?
Texto muito bom, mestre André!

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