OS CINCO MANDAMENTOS DA ORDEM DAS CURANDEIRAS DO ENTARDECER - 1ª parte >> Zoraya Cesar



A mulher andava curvada sob o peso de um grande cesto atado às costas. Apenas entrevista, sob a escuridão de uma noite sem lua ou estrelas, andava furtiva e atenta. A Guerra das Sombras mal terminara, ainda era perigoso percorrer caminhos solitários, com tantos bandos de traficantes de magia à procura de cargas preciosas. 

A guerra suja e cruenta entre Viajantes do Tempo e Soldados das Galáxias fez um grande estrago em diferentes dimensões e planetas. Tantos anjos, demônios, feiticeiros do além, monstros espaciais valorosos sucumbiram por conta daquela estupidez, lamentou-se Lewlyen.

Primeiro mandamento da Ordem das Curandeiras do Entardecer

Não se envolva ou tome partido numa contenda. Sua missão é curar sem distinção de seres.


Lewlyen era uma tradicionalista que gostava de seguir as regras de sua Ordem. Graças a isso, talvez, conseguira passar incólume por campos, espaços, planetas e dimensões durante a guerra. Sua presença e ajuda eram inestimáveis para qualquer um dos lados. 

Por isso dificilmente alguém se metia com elas, mas havia os tresloucados – sempre os há. Daí o segundo mandamento, também seguido fielmente pelas integrantes da Ordem. 

Segundo mandamento da Ordem das Curandeiras do Entardecer

No entanto, caso o assistido ofereça algum tipo de perigo à sua segurança ou à de uma companheira, mate-o. Se possível, com eficiência e generosidade, isto é, de forma rápida e indolor. Se possível... ou desejável.


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Toda guerra deixa sequelas, e uma delas foi a proliferação de algumas pragas. Traficantes de magia, por exemplo. Melcots e Undvigs – seres extragalácticos mercenários, parasitas que invadiam lugares em guerra para lucrar com roubos, pilhagens, sequestros e, principalmente, tráfico de magias, rituais e matéria-prima para poções e feitiços. Levaria ainda algum tempo para o planeta de Lewlyen se livrar deles definitivamente. 

Os Melcots se assemelhavam a pequenos minotauros cobertos de escamas cortantes; seus dentes serrilhados conseguiam triturar pedras e seu coice de cascos pontudos podia até mesmo penetrar a armadura poderosa de um guerreiro alado e feri-lo gravemente. Raça de fêmeas que só conseguiam procriar no ventre de machos mortos de outras espécies, as Undvigs eram caçadoras temíveis.  Seu corpo consistia em uma espécie de boca que servia tanto para farejar quanto para comer, dotado de duas pernas curtas, que, paradoxalmente, corriam a uma velocidade assombrosa – poucos conseguiam escapar à sua perseguição.

Melcots e Undvigs não deixavam prisioneiros para depois. Se pudessem roubar a carga ou conseguir o que queriam rapidamente, simplesmente matavam a vítima. Se precisassem de alguma informação, torturavam primeiro e matavam depois. Não tinha conversa. 


Mesmo consciente do risco ao qual estava exposta, Lewlyen, assim como a maioria das suas companheiras, preferia caçar ou viajar sozinha, entre o crepúsculo e o amanhecer – quando seus sentidos ficavam tão aguçados quanto os de um animal noturno. E como boa parte do material que uma Curandeira precisava podia ser bastante perigoso e agressivo, até, era melhor que ela tirasse proveito do aumento de seus poderes durante aquelas horas.  

Naquela noite, em especial, Lewlyen estava exaurida. A caça levara horas para ser efetuada com segurança e exigira grande esforço físico e mental. Precisara ficar pendurada de cabeça para baixo por mais de duas horas numa ribanceira íngreme e alta o suficiente para provocar a morte em caso de queda, esperando que a fumaça adormecedora fizesse efeito nas suas presas. E, também, tivera de manter sua mente concentrada em pensamentos profundos, para não prestar atenção ao som das medusas e à dança de seus tentáculos coloridos. Lewlyen não podia fechar os olhos, pois devia cortá-las no momento exato em que perdessem a cor. Não adiantava tapar os ouvidos, o som percutia sobre o corpo, se a mente não fosse disciplinada, sucumbiria ao encanto. 

Ao encanto das medusas de tentáculos tilintantes. Essas ervas malditas envenenavam qualquer solo por onde rastejassem e se alimentavam dos passantes – de qualquer espécie – desavisados. Mesmerizada por seus tentáculos brilhantes, coloridos e pelo som que emitiam, a vítima caía numa letargia irreversível, para então ser devorada ainda em vida. A proliferação daquela praga era mais uma consequência nefasta da Guerra das Sombras. No entanto, como tudo na vida tem dois lados, medusas de tentáculos tilintantes eram matéria-prima importantíssima, cujo preço era incalculável, muito eficazes para curar (ou para matar, tudo dependia de modo de preparo) diversos seres e doenças, quase uma panaceia universal. Portanto, muito procurada por traficantes, em especial Melcots e Undvigs, que eram capazes de qualquer coisa para conseguir uma que fosse, e vender no mercado ilegal por valores absurdos. Uma unidade de medusa de tentáculos tilintantes deixaria para sempre milionário o mais perdulário dos traficantes. 

Uma Curandeira do Entardecer, no entanto, jamais vendia seus produtos a comerciantes ilegais. E Lewlyen precisava muito daquelas ervas, para ajudar uma aldeia atingida pelo Mal dos Ossos em Pó, e, principalmente, para curar seu melhor amigo, um Duende do Subterrâneo.

Terceiro mandamento de uma Curandeira do Entardecer

Amigos verdadeiros são raros, importantes e, às vezes, vitais. O amigo de uma Curandeira deve ser respeitado e protegido por toda a Ordem. 


Continua dia 25 de novembro a 2ª e última parte de uma história de lealdade, vingança e magia.


Comentários

Marcio disse…
Primeiro mandamento deste comentarista dos textos da Zoraya: não comente textos ainda não concluídos.
Uma pena que eu seja tão indisciplinado.
Bem feito!
Como é que eu vou comentar um texto introdutório?
Já dentro deste universo mágico esperando a próxima parte!
branco disse…
aguardando com a certeza que a maestria rotineira de sua escrita será mantida.
Antonio Fernando disse…
Já coloquei o cronômetro da ansiedade em contagem regressiva aguardando a segunda parte
Anônimo disse…
Será que vem aí um universo fantástico de Zoraya? Já tem o do Tolkien, do JRR Martin.... Agora esse que está bem diferente! Gostei!! Pode ter vários capítulos!!
Érica disse…
Só uma correção, do meu ponto de vista: Amigos verdadeiros são raros, importantes e SEMPRE vitais
:)
whisner disse…
Gostei destes tentáculos brilhantes. Esperando a última parte...
Carla Dias disse…
Zoraya, minha cara, você me faz sofrer um tanto com isso de 1ª parte, 2ª parte. Eu e a minha mania de querer todas as partes ao mesmo tempo. Mas você sabe, né? Sou sua fã. ;) Até a próxima parte!
Nadia Coldebella disse…
Tô aprendendo com vc que esse negócio de partes é sofrido demais. Veja meu caso. Esperei pra ler tudo de uma vez, porque meu Rivotril acabou e eu não tenho medusas...
Lady Killer tbm acha o melhor no seu leitor, no meu caso, paciência...

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