REENCONTRO [Anna Christina Saeta de Aguiar]

Sabe quando você encontra um amigo que não via há muito tempo? Junto com o sorriso de orelha a orelha por rever quem a gente gosta, vem a lembrança do último encontro. A gente sabe quando foi, sabe também que se despediu com aquele mesmo "eu te ligo" de sempre, que é bem capaz que tenha deixado algo pré-agendado - "então fica combinado aquele chopp no mês que vem? Começo do mês, sem falta, hein?" ou coisa do gênero. Muitas vezes há um certo constrangimento por ter ficado tanto tempo sem ligar, sem falar, sem mandar uma mensagem, por ter negligenciado o amigo tão querido.

É mais ou menos desse jeito que estou me sentindo hoje. Pois foi assim que me despedi das letrinhas, ao menos das letrinhas que, organizadamente, formam um texto que, por pretensão minha, será levado a público para leitura de quem assim o quiser. Deixei um compromisso pré-agendado e não o cumpri. Pensei nas letrinhas algumas vezes, e estou sendo sincera ao dizer que só pensei algumas vezes nelas, não muito, não o tempo todo. Tive aquela impressão - tão humana - de que elas sempre estarão por aí quando eu precisar delas e, dessa forma, podem esperar pela minha boa vontade. A verdade é que as abandonei sem dar notícias.

A última vez que escrevi um texto foi em 31 de outubro do ano passado. Meu aniversário, por coincidência. Se bem me lembro, naquele dia estava com a bruxa encostada e quis escrever para cutucar o Saci, que melhor faria em deixar as bruxas em paz e arrumar um dia só para ele. No mês seguinte, falhei nos dois compromissos que tinha com as letras e também com os meus amigos do Crônica. Peço desculpas pelas faltas, mesmo sendo elas antigas. Porque o tempo me mostrou que, se as letras continuaram à minha disposição, o Crônica teve um longo período de recesso que me encheu de saudades.

Confesso que está sendo muito difícil este reencontro com as letras. Elas, compreensivelmente, não estão sendo exatamente calorosas. A falta de sincronia entre meu cérebro, meus dedos e as letras são conseqüência do meu longo afastamento. Agora mesmo, ao escrever "conseqüências", tive a nítida impressão de estar repetindo palavras. Estou? Certamente estou, não sei se "conseqüências" em especial, mas outras palavras já apareceram neste pequeno texto várias vezes. Estas são as mais fáceis. As outras ainda guardam distância e não se apresentam para me ajudar.

Mas escolher as palavras certas nem seria um problema tão grande - pois tenho tempo! - se idéias se apresentassem. Letras e palavras, mesmo as mais caprichosamente escolhidas e alinhadas só servem se expressarem uma boa idéia, inventarem uma boa história, contarem um bom causo. Neste momento, o tal constrangimento do reencontro é quase tão grande quanto a vontade de pensar em alguma coisa, mas em alguma coisa muito legal para falar, em alguma coisa que divirta, que entretenha ou que encha de raiva alguma pessoa. Alguma coisa que crie uma emoção, um sentimento ou pelo menos um desacordo. Alguma coisa que faça com que o que escrevo seja mais do que um punhado de letras organizadas em palavras, organizadas em linhas, organizadas em parágrafos. Mas é bobagem falar em inspiração ou falta de assunto quando tanta gente melhor já o fez, conseguindo transformar a falta de tema e assunto em história interessante. Não, não era essa a minha intenção. Juro.

A minha intenção é a de avisar às letras e às palavras que eu voltei. E também dar um toque pro meu cérebro para que trabalhe mais e melhor, pois pretendo exercitá-lo daqui pra frente. Com o tempo, a gente - letras, palavras, idéias e eu - vai se entender, tenho certeza. Não tão bem quanto eu gostaria que fosse, pois já não era assim antes. Mas ao menos o suficiente para que a gente possa se tratar como aqueles velhos amigos que, não importa há quanto tempo a gente não veja, quando encontra nunca falta assunto, nunca fica desconversado.

E fica então marcado o próximo chopp, sem falta, para quinta-feira da semana que vem.

Comentários

Chris,

Passei o dia na maior expectativa: "será que ela NÃO VAI escrever?", "será que ela VAI escrever?". Confesso que quase perdi a esperança, que ela quase se foi com o sol. Então quase por acaso, pra testar um link direcionado ao Crônica do Dia, dou com um título que não é da Carla, e foi como se o sol, por meio segundo, reaparecesse; tão rápido que fizesse a gente duvidar se foi alucinação ou iluminação mesmo.

Abraço de reencontro, beijos nas suas mãos de palavras,
Anônimo disse…
Oi, letrinhas e palavrinhas! Bem-vindas com a sua dona. Oi, dona Anna Chris! Bem-vinda com letrinhas, palavrinhas e textões.
Volte mais, volte sempre. Voltemos todos.
Beijos, Mau
Anônimo disse…
Ah, quem nunca teve brigas com as próprias idéias não é alguém completo...
Carla Dias disse…
Chris,

Adorei ler seu texto. Tenho certeza que as suas letrinhas e seus pensamentos farão festa na sala de estar do Crônica.

Beijos!
Anônimo disse…
Chris, minha escritora dileta e predileta,
Que bom ver você de volta...
Ainda que a minha escorpiana esteja brigando com as letrinhas, idéias e inspiração, tudo sempre se harmoniza sai muito bem e se você promete melhorar, nem sei o tamanho que vai ficar o ego desta tia que te adora e que tem o maior orgulho de você.
Adorei o texto.-
Feliz regresso!!!
Beijos,
Tia
Chris,
Essa 'desconexão' com as letras, acredite, não é 'privilégio' seu: acho que todos estamos com essa sua sensação.
Mas acho que as letras não nos abandonam - se escondem de nós, se estremecem conosco, rangem os dentes ao nosso descaso; mas, como se vê pelo seu delicado texto, basta um dedilhar mais atento pra elas se assanharem.
Sim, sim: certamente virão muitas quintas-feiras de idéias... :)
Beijo grande.
Anônimo disse…
Min(h)a Chris, que delicia.

Te ler é sempre bom e o melhor é que esta tudo de cara nova.

Um beijo grande.
Anônimo disse…
Cris, tava com saudade das suas crônicas! Ai, nem me fale, hoje é o dia da MINHA crônica e eu fiquei até 1h da manhã ontem escrevendo e ainda acho que não tá boa... ainda falta a coragem pra publicar.

Beijos!

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