BULERÍAS >> Ana Raja


Quando você encontra o Flamenco, é impossível sair imune a tal expressão artística, declarada, pela Unesco, Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

Você tem duas formas de se encantar: assistindo ou fazendo parte desse espetáculo. Não importa, ele tem o dom de transformar vidas.

O flamenco liberta! 

Leva você para outro lugar, o seu lugar, que talvez seja ainda desconhecido ou esteja adormecido por várias razões esquecidas pelo atropelo da vida. 

O flamenco deixa marcas!

Digo isso com propriedade. Quando eu pisei em uma sala de aula para aprender os primeiros passos, diante do espelho me reconheci no reflexo de um tempo passado, não o do momento, e pensei, naquele instante: era isso que faltava. É necessário mudar para continuar vivendo. 

A música... a professora de dança imponente, que, com graça e sabedoria, mostrava algo a mais que passos e coreografias. Em seu olhar havia beleza. Na sua expressão se estampavam o amor, o desespero, a ilusão, o encantamento. Uma bailaora escancara para todos o que ela sente e quer. O cante a conduz para qualquer história – de alegria ou de pesar.

Flamenco é fascínio!

Hoje eu não danço mais, aliás, nem aprendi tanto assim, mas entendi o poder da dança e o aceitei. Aos poucos fui transformando o meu dia a dia. Percebi o vazio que habitava em mim. Essa era a lacuna adormecida em meu peito. Talvez, as outras coisas que me preenchiam disfarçassem a insatisfação profissional silenciada por anos. Mas eu tive o privilégio de desistir de tudo que não me alegrava mais. 

O flamenco traz força! 

Aquela mulher que eu vi no primeiro dia de aula, refletida no espelho, queria outra coisa. Na verdade, ela só queria voltar a escrever. Escrever as mulheres reveladas naquele espaço com suas feições entoadas em cada taconeo. E digo, com certeza, este foi o meu passo mais perfeito. 

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As dores delas, primeiro livro de Ana Raja, está a venda no editoraurutau.com.

anaraja.com.br

Comentários

Jander Minesso disse…
Que legal, essa história de reencontro consigo! E que legal saber que existe tanta coisa dentro do flamenco que a gente nem imagina.
Anônimo disse…
Ana ...vc reencontrou sua parcela mais pura feminina! Parabéns pelo livro! Nele muitas de nós também podemos nos ver. Obrigada ❤️ Y OLE TU!!
Cláudia Clô disse…
O flamenco liberta o que sempre seremos. Ana já sabia que a escrita moveria suas entranhas. O baile no espelho, a tinta na folha em branco… força motriz! Olé tú!
Soraya Jordão disse…
Ana, estava precisando ler sobre reencontro, reinvenção de si, redenção....Que crônica! Que ilustração.
Zoraya Cesar disse…
Tão bom qd encontramos algo q, inesperada e surpreendentemente, nos traz à tona de maneira indolor. Dança é vida!
Albir disse…
Muito bom ter algo para que voltar, mesmo que seja uma ideia.
Dance, agora, no papel, Ana Raja!

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