TEOREMA DE PITÁGORAS << SORAYA JORDÃO


 

Onde mora o não vivido?

Por quais vielas agonizam os sonhos silenciados, os suspiros contidos?

Em que esquinas se despacham os desejos condenados? 

Há de existir um lugar, um altar, decorado com flores murchas e cotocos de velas queimadas, no qual se possa cultuar o que foi renegado pela covardia. 

Em alguma constelação repousa o cemitério das oportunidades perdidas, das palavras não ditas, das promessas natimortas. 

Para cada escolha, o aborto seco de todos os outros caminhos.

Por onde vagam estes espíritos? Talvez reencarnem no corpo da culpa ou do arrependimento. Quem sabe se tornam fantasmas feitos de solidão? 

Procuro as que não ousei ser. 

Do tamanho da vida é o ralo sugador de todas as sobras de mim.

Comentários

Mário Baggio disse…
No ginásio, quando estudávamos os teoremas (Tales, Pitágoras), sempre havia a conclusão: "CQD - Como Queríamos Demonstrar". Soraya, você chegou ao CQD: "Procuro as que não ousei ser. Do tamanho da vida é o ralo sugador de todas as sobras de mim." Uma beleza de texto.
Ana Raja disse…
Soraya, vc escreve lindamente. Que crônica maravilhosa.
Quantas de nós não assumidas ficaram para trás?
Anônimo disse…
E qtas culpas carregamos e pra q? Para servir de exemplo e não mais deixar de se viver!
Jander Minesso disse…
Colocar palavras no papel é fácil. Mas fazer o que você fez aqui, minha amiga, é para poucos.
Anônimo disse…
Sacada de mestre. Tive que voltar muito mais de 50 anos para entender as conexões do teu texto.
Anônimo disse…
Ops. Esqueci de assinar. Mariângela Franco
Anônimo disse…
Adorei.
Anônimo disse…
Você sempre apoiando minha escrita. Amo!
Anônimo disse…
Pois é…Sempre é hora de virar o jogo.
Anônimo disse…
Obrigada, Jander! Me alegra contar com sua leitura.
Anônimo disse…
Mariângela, adoreiii saber que você leu e gostou. Que bom!
Nadia Coldebella disse…
"Para cada escolha, o aborto seco de todos os outros caminhos". Será que em algum universo paralelo, um eu alternativo meu segue um caminho que deixei de escolher? Será que naquele mundo, em algum cemitério, estarão enterradas as coisas que não escolhi lá, mas escolhi aqui? Sempre pensei nisso, no q seria se. Mas aí lembro daquela música do Capital inicial, Não olhe pra trás, e fico pensando que no fim de tudo as coisas são como elas são.
Acho seus textos muito filosóficos. Esse, em especial, é muito bom.
Anônimo disse…
Agradeço o lindo presente de aniversário que me deu hoje.. Reflexão bem vinda! Quantas de mim povoaram minha vida, celebrada hoje com muita alegria? Sensacional! Parabéns Soraya!
Anônimo disse…
Seria bom se pudéssemos espiar essas outras. Obgda. Nadia. Bjo. Soraya
Zoraya Cesar disse…
"Há de existir um lugar, um altar, decorado com flores murchas e cotocos de velas queimadas, no qual se possa cultuar o que foi renegado pela covardia. " Espero que haja, para todos nós, e que seja fácil de encontrar.
Albir disse…
Que beleza, Soraya!
Deu forma a questionamentos que eu não conseguia fazer!

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