INFLAMA E ALIMENTA >> André Ferrer
Ela está em tudo: nos conselhos, nas reclamações, nos ataques de inveja e despeito. Definitivamente, já não causa tanta estranheza. Numa conversa, muitos conseguem pronunciá-la na primeira tentativa. Nos textos, alguns até já escrevem corretamente a palavra! Falo de procrastinação.
Até pouco tempo, ninguém sabia o significado. Hoje, todo mundo sabe e ainda se esforça para enfiá-la em qualquer cantilena.
Para o bem e para o mal, a extensão do uso da referida palavra é tão democrática que surpreende: “proclastinação”, “plocrastinação”, “procrastinassão”. Enfim, há de tudo. O mais cuidadoso para e pensa. O mais ladino, sobretudo quando aconselha, escolhe dizer ou escrever “bora lá”. Isto é: opta, justamente, pela vereda procrastinadora do idioma.
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Sim. É definitivo e parece duro, mas só é duro para os ingênuos. Aquela mania de empurrar as tarefas com o umbigo estaria mesmo entre as piores faltas?
Poderia, inclusive, cerrar as entradas do Éden para você e, também, para este cronista? Não se preocupe. Como subitem do sexto Pecado Capital, a procrastinação também entrou
para o rol das ações mais criticadas e praticadas pelo ser humano.
Fique tranquilo(a). Nunca se condenou tanto a procrastinação. Em contrapartida, nunca se procrastinou tanto. A preguiça – bem como os demais tópicos da celestial prescrição – é gasolina pura. Combustível da mais alta octanagem, que inflama e alimenta a hipocrisia.
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Esta crônica faz parte do Projeto Crônica De Um Ontem e foi publicada originalmente em 16 de janeiro de 2017.
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