ABELHINHAS >> Sergio Geia
Meu personagem mata uma abelhinha.
Cecília está irritada e o inseto voa em redor do abajur. O zunido insistente, a possibilidade de a qualquer momento ele grudar em seus cabelos, ou mesmo tomar uma ferroada, a mãe com perguntas indecentes, tudo a irrita.
Então faz do jornal uma espécie de canudo, do canudo uma espécie de arma, e poft. Zonza, a abelhinha cai no chão.
Essa é uma situação ocorrida na ficção. Não façam isso nunca. Não matem abelhinhas. Elas são importantes. Elas são bonitas. Elas produzem mel. Elas polinizam. Mais que governantes, elas garantem a segurança alimentar de toda a humanidade.
Lembrei-me de uma história.
No chão, uma pobre e inofensiva abelhinha, indo de lá pra cá, como se já estivesse em sobrevida. Minha primeira reação foi dar-lhe um pisão, antecipando-lhe o fim. Não dei. Imagine se faria isso com aquele pobre inseto tão fundamental para a nossa existência. Continuei a trabalhar e me esqueci dela. Saudosa, ela não se esqueceu de mim.
Num certo momento, tomei uma picada na perna. A inofensiva já estava na canela, subindo em direção ao joelho, eu não percebia. Com o susto, a dor, bati forte o pé no chão e ela caiu. Depois eu tive uma reação rápida, mas isso não vem ao caso.
O importante é que são bonitas, produzem mel, polinizam e mais que governantes, garantem a segurança alimentar de toda a humanidade.
Não matem abelhinhas.
Ilustração: Pixabay
Comentários
Delícia de pequenice de uma pequena coisa, mais um exemplo de um digno discípulo de Rubem Braga!
Ando preocupada com vc agora... Mas não vem ao caso, né? Afinal, não matem abelhinhas.
Que história mais bacana! E q sutileza de sarcasmo! Um sarcasmo fofo. Amei!
Gde abç!!