VIVA! >> Clara Braga

Quando eu decidi fazer artes plásticas na faculdade, muita gente questionou minha escolha.

De alguns eu percebia uma preocupação real, sincera e coerente, já que vivemos em um país que não valoriza e não dá muita oportunidade para os artistas.

De outros tantos eu percebia um preconceito velado de preocupação, pois para eles arte era hobby, não profissão, era coisa de gente que não queria nada sério da vida.

Hoje, consigo enxergar com mais clareza o que de fato está por trás do discurso dessas pessoas.

A arte incomoda, nos tira da nossa zona de conforto, nos faz pensar e questionar, e nem todo mundo está preparado para ser questionado ou questionador.

A arte nos dá voz, permite que qualquer um que dela se aproxime possa se expressar, e nem todo mundo está pronto para ouvir a voz daqueles que pensam diferente deles.

A arte muda, e quem está em posição de privilégio raramente quer mudar.

A arte não nos deixa esquecer. O artista pode partir, mas a arte dura, e nem todo mundo quer lembrar ou ser lembrado.

Governos autoritários ao redor de todo o mundo foram inimigos da cultura, afinal, imagina o perigo de uma sociedade que questiona, se expressa, muda e não esquece.

A arte salva, a arte faz valer a pena, a arte humaniza, a arte resiste e merece ser vista, ouvida, lida, sentida, valorizada e honrada. 

No domingo, Fernanda Torres foi premiada com um globo de ouro, e foi emocionante demais ver a quantidade de pessoas que vibrou como se fosse realmente uma final de copa do mundo.

Essa comoção não acontece por causa apenas do prêmio em si, mas quando a Fernanda sobe naquele palco emocionada, ela sobe carregando consigo a história de pessoas que não puderam contar suas próprias histórias, e só a arte poderia fazer isso por elas.

Viva a Fernanda, viva a arte!

Comentários

Soraya Jordão disse…
Belíssima crônica. Também escrevi sobre o ar tão necessário da arte.
Zoraya Cesar disse…
que coincidência, a Soraya tb escreveu sobre esse tema e, todas duas, com sensibilidade. Durante a pandemia vimos, mais que nunca o poder redentor, paliativo e restaurador da arte!
Albir disse…
Importa que a arte continue incomodando. Muitas vezes ela é a única voz.

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