PRAZOS >> JANDER MINESSO
Aqui, no Crônica do Dia, temos um combinado: a cada duas semanas, você precisa publicar um texto. E a maior parte do time é constante.
A semana já acabava quando percebi que meu dia estava chegando e eu não tinha patavina para publicar. Nada na gaveta de emergência, nenhum rascunho, nem uma mísera linha para servir como ponto de partida. E ainda precisava entregar duas pesquisas para o trabalho. Como não há musa melhor do que o relógio, lancei-me aos afazeres. Pensei que, no meio da labuta, poderia aparecer alguma inspiração.
(A propósito: enquanto pesquisava, descobri que o primeiro vestido de sucesso desenhado pelo Clodovil foi inspirado na ópera Turandot, de Puccini. Entendo pouco de moda e menos de ópera, então não consegui usar tal informação para muita coisa. Pelo menos, a curiosidade rendeu algumas linhas aqui.)
Finda a lida diária, dividi a preocupação com minha companheira:
– Não tenho nenhum texto para o Crônica e estou moído de tanto trabalhar.
– Descansa um pouco. Faz alguma coisa para se distrair.
Distraído pela fome, aproveitei o conselho para jantar um pão com ovo mexido e um restinho de macarrão. A Frida, nossa cachorra, ficou ao meu lado o tempo todo, esperando uma lasquinha de ovo. Porém, enterrado em minhas preocupações com a crônica do Crônica, negligenciei a pobrezinha. Ela teve que se contentar com a ração de sempre, rica em tocoferois naturais e proteínas de alto valor biológico.
Em seguida, resolvi fazer uma faxina noturna, já que a casa não via uma vassoura desde que saímos para a viagem de férias. Imaginei que um pouco de trabalho doméstico era o que faltava para abrir as torneiras da criatividade. Então esfreguei, lavei e varri como nunca. Consegui até tirar uma manchinha encardida da pia do banheiro, do tamanho de um gergelim, que não saía nem por decreto. O tal do Cif funciona, mesmo. Me fez até pensar se não existe um mercado inexplorado de merchandising em crônicas. Um dia, quem sabe.
Satisfeito com a limpeza da casa, olhei em volta, buscando não sei o quê. Difícil encontrar alguma coisa quando você nem imagina o que está procurando. Durante o devaneio, mirei as cápsulas de colágeno que a Fridoca está tomando para tratar o colapso de traqueia e lembrei que precisava ministrar o dito suplemento. Vocês não imaginam a alegria de um bicho que precisa engolir uma tora de colágeno.
Depois de muita psicologia canina, água e um petisco, ela acabou aceitando a cápsula. Se meu dia não foi fácil, imaginem o da cachorra. Achei que ela jamais chegaria perto de mim outra vez. Mas a fofa deitou ao meu lado assim que sentei à mesa e abri o computador. Bonitinha.
Aí, eu escrevi este texto.
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Imagem de tigerlily713 por Pixabay
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