O QUE VAMOS TOLERAR EM 2025? >> Albir José Inácio da Silva
Estamos completando dois anos dos ataques terroristas contra
as sedes dos três poderes da República.
Não foi um ataque original, mas uma cópia da intentona trumpista
no Capitólio contra o resultado das eleições. Uma tentativa de golpe adubada pelo
desejo sabujo de macaquear a matriz. Sempre imitamos o pior.
Quando as torres gêmeas explodiram em Nova Iorque, e a Europa
chorava dezenas de atentados nas capitais, respiramos aliviados porque não
havia entre nós essas tragédias.
Mas isso não significa que somos inexperientes em matéria de terrorismo.
Desde o Brasil-colônia a escravidão sempre aterrorizou nossa
porção negra e índia com torturas, estupros, confinamentos e assassinatos em
nome dos lucros, da propriedade e da evangelização. Nosso país foi o último das
Américas a abolir o cativeiro.
O terrorismo de Estado é nosso velho conhecido, já que
alternamos períodos de democracia com autoritarismos cruéis.
Com a ditatura de 64, o terror se intensificou, permitindo-se
a tortura e morte dos inconformados. Bombas explodiram em shows, OAB, ABI, e
até em bancas de jornais que se atrevessem a vender publicações incômodas.
Nossa própria polícia, criada no século XIX para defender a Corte,
aterroriza pretos e pobres nos morros e no asfalto, em nome da ordem e da
segurança. Costuma arrebentar portas a pontapés e cabeças a tiros com a
justificativa dos autos de resistência.
O terrorismo privado das facções – grandes empresas e conglomerados
do crime que se espalham pelo país - ajuda na opressão e submissão das classes miseráveis.
Seus dirigentes se tornam inatingíveis porque se aliam ou pagam propina aos que
deveriam prendê-los.
Um subgrupo do terrorismo privado é o terrorismo religioso.
Já tínhamos alguns sinais dele com a depredação e incêndio dos terreiros de
umbanda. Mas agora se institucionalizou. Tem suas próprias leis, escreve
versículos nas paredes da comunidade, faz orações antes das batalhas, expulsa
os pais de santo, fecha igrejas católicas e manda para o micro-ondas os
desafetos. Tudo isso sob a bandeira de Israel - que os seus líderes acreditam
ser um Estado cristão.
Em 2024 entramos para o seleto grupo de países que produzem
homens-bomba, ainda como efeito retardado da pregação neofascista.
A apologia ao terrorismo de Estado, com torturas e
assassinatos, longe de ser punida, costuma render muitos votos para cargos eletivos.
Foi essa apologia, com torturador glorificado em camisetas,
bonés e discursos nos carros de som, nos parlamentos e nos púlpitos, que levou
centenas de ingênuos, incluindo vovôs e vovós, a cometer crimes graves e a
cumprir penas de prisão.
O terrorismo de Estado é sempre anistiado, o privado às vezes
é punido, a menos que se associe com o público. A anistia aos torturadores em 1979 nos mantém sob
permanente ameaça de novos golpes, com a desfaçatez dos saudosistas e viúvas da
ditadura.
Até onde vai a nossa tolerância com os intolerantes? Até que
nos “aniquilem”, como o policial ameaçou a jornalista?
Precisamos deixar claro que novos atentados serão punidos com
rigor. Só assim conseguiremos ensinar aos nossos garotinhos mimados,
uniformizados e egoístas, que é feio torturar os coleguinhas e explodir as coisinhas
de todos.
É uma encruzilhada. O que queremos para 2025?
Neste momento em que Fernanda Torres ganha o Globo de Ouro
por atuação num filme que denuncia ao mundo o terror da última ditadura
brasileira, é tempo de decidirmos que distância queremos do terrorismo.
Feliz ano novo!
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