SINAL VERMELHO >> Albir José Inácio da Silva

 

A luz amarela do planeta Terra já piscava desde o início do século XXI com o crescimento de células neonazistas e dos partidos de extrema direita nas Américas e na Europa. Mas, desde janeiro último, acendeu-se o sinal vermelho.

 

Na década de 20 do século passado, o chamado Golpe da Cervejaria foi a primeira tentativa de tomar o poder na República de Weimar. Como não deu certo, os nazistas investiram nas eleições. Mais tarde, nomeado chanceler e manipulando o sistema político, o bigode de Hitler destruiu a democracia alemã e fundou a ditadura do III Reich.

 

Nesta nossa década de 20, após uma tentativa de golpe com invasão do Capitólio em 6 de janeiro, a democracia mais longeva do mundo elegeu pela segunda vez o topete do Agente Laranja. Quase imediatamente surgiram nos palanques os gestos de braço estendido e mão espalmada para baixo.

 

Os supremacistas, que até metade do século passado penduravam negros nas árvores, comemoraram publicamente a vitória. E agora incluem, denunciam e combatem os latinos e outros gentios. Como na Alemanha, executam-se deportações em massa, estimulando as denúncias contra desafetos ilegais. Pessoas deixam de ir às igrejas, às escolas e de circular nas ruas, escondidas nos porões como Anne Frank e sua gente.

 

Anunciam-se novos Campos de Concentração para inimigos latinos. Guantánamo já está pronto, mas há negociações para instalação de outros campos em El Salvador. Para lá serão enviados os “sacos de lixo” – como disse a secretária de Segurança Interna dos EUA. O primeiro Campo, Dachau em Munique, foi criado em 1933, ainda estamos em 25, mas os vagões de prisioneiros já partem para o Caribe.

 

Como aconteceu no século XX, em breve devem ser incluídos os comunistas, social-democratas, ciganos, deficientes físicos e mentais, e principalmente os gays, uma vez que o governo já decretou o fim do programa de diversidade nas Forças Armadas. Só existe masculino e feminino – afirma Trump. Está aberta a temporada de caça aos homoafetivos.

 

Grupos neonazistas crescem em todo o mundo e conquistam cadeiras nos parlamentos. Lideranças totalitárias já sonham em pertencer ao novo “Eixo”. No Brasil, por exemplo, extremistas sabujos, ajoelhados em continência aos ideais do grande irmão branco do norte, planejaram o assassinato do presidente eleito, do vice e do ministro do Supremo, nos moldes da noite das facas longas que eliminou adversários do führer.

Em 1929 Mussolini e Vaticano assinaram o tratado de Latrão que resolvia questões políticas e garantia os interesses econômicos da Igreja. Isso foi comemorado pelos católicos, pelo Partido Fascista, e o Papa Pio XI afirmou que Mussolini era um homem enviado pela providência divina.

 

Atualmente a isenção de impostos e a crescente participação de religiosos nas esferas de poder – teologia do domínio - têm garantido o apoio cego de alguns sacerdotes a títeres do autoritarismo. Pautas neofascistas como a discriminação de pessoas, a distribuição de armas e o negacionismo da ciência estão cada vez mais na ordem do dia. Pregam o ódio, brandindo a bíblia com voz estridente nos púlpitos, muito distantes e na contramão do que seria o amor cristão.

  

Em 1938 a Áustria foi a primeira anexação territorial da Alemanha. Ainda estamos na década de 20, mas já há ameaças de ocupar Gaza, Groenlândia, Canal do Panamá, Golfo do México e Canadá. Este último seria o quinquagésimo primeiro Estado.

 

A liquidação do gueto de Varsóvia pelas tropas da SS só aconteceu em 1943. Ainda estamos em 25, mas o gueto de Gaza, com suas cercas, bombardeios, fome e peste, está prestes a ser liquidado. Os sobreviventes seriam transferidos, sabe-se lá pra onde, e os escombros transformados numa Riviera com resorts, cassinos e mansões.

 

O rigor de Nuremberg manteve acuado o nazifascismo por oitenta anos, mas ele não morreu.

 

Não há neutralidade quando se trata de horror, não há como lavar as mãos de sangue inocente. Isenção é cumplicidade. Há um adágio popular que diz: se há dez pessoas numa mesa, um nazista se senta e ninguém se levanta, então temos onze nazistas. Vamos ficar sentados?

 

Pergunta-se: É paranoia sentir medo de descobrir, na década de 40 deste século, milhares de corpos em valas comuns e milhares de mortos-vivos esperando sua vez nas câmaras de gás?

Comentários

Luiz Silva disse…

Isso é bem mais que um bom texto. Se faz urgente falar sobre o tamanho do problema.
Jander Minesso disse…
Outro dia ouvi alguém dizer que o mal de uma geração criada na paz é que ela não entende o horror da guerra. Mas não sei qual geração é essa que foi criada na paz.
Zoraya Cesar disse…
Pra acrescentar mais um problema, parece que as pessoas nao entendem mais a linguagem dos sinais e ultrapassam o sinal amarelo aqui pra cair no vermelho ali. E nao se importam. Nunca viram O Ovo da Serpente. São tempos de cegueira.
Albir disse…
Obrigado, Luiz, Jander e Zoraya!

Postagens mais visitadas