MEU TIO E O PADRE >> Sergio Geia

 

Fui comprar pão no mercadinho do Marcílio. Encontrei meu tio conversando com um homem alto, desconhecido. O novo padre, disse, apresentando-me a ele, está assumindo a paróquia. 

 

Compro pão aos sábados e domingos no Marcílio. O mercadinho recebe o produto de uma padaria, os pães chegam quentinhos numa cesta; o que gosto leva queijo por cima. 

 

Marcílio anda cansado, diz que não irá mais abrir aos domingos; de domingo a domingo é pesado, falou-me outro dia; não sobra tempo pra nada. Embora tenha concordado, confesso que a ausência do pão quentinho na frente de casa aos domingos causou-me certo aborrecimento. 

 

Cortei o pão durante a semana. “Prefiro”, entre aspas mesmo e você me entende, ovo mexido, frutas e café. Apenas aos sábados e domingos que me presenteio com pão e outras delícias no café. Teria que encontrar uma alternativa. 

 

Enquanto esperava o carro da padaria chegar (estava atrasado), ouvi a conversa. Estavam falando do preço do almoço. Bom mesmo, dizia meu tio, é o Bar do Osmar, a comida é farta e boa, o preço, módico; o padre já conhecia e concordou. Meu tio então emendou a história. 

 

Eu e meu irmão, o pai dele, disse, apontando para mim, tínhamos o costume de tomar cerveja aos domingos, pela manhã, no Bar do Osmar. Certa vez, mesmo advogando contra, sugeri ao Osmar que comprasse uma casinha em Ubatuba, que fechasse aos domingos, que fosse aproveitar a vida. Algum tempo depois o bar começou a fechar aos domingos, e deu uma risadinha. Domingo é o dia do Senhor, concordou o padre. 

 

Eu, sério, comecei a prestar mais atenção naquela conversa. 

 

Não é?, disse, meu tio. E no Jarbas, a mesma coisa. A padaria abria domingo. Eu dei a sugestão. Adivinha? 

 

Refleti. E em poucos segundos, entendi tudo. 

 

O Marcílio até poderia estar cansado, mas houve um empurrãozinho.

 

Ilustração: Pixabay