ressonâncias >> whisner fraga

 


só o dono havia escutado, óbvio,

mas no máximo umas três vezes,

e sabe-se lá onde ele comprou o vinil: cidade pequena, uma única e pequena loja, que ainda vendia outras bugigangas e, se brincar, não abria aos sábados,

um passava na casa do outro, que passava na casa do outro e assim por diante, o dia não era bem acertado, era quando tinha disco novo,

sentávamo-nos os seis ou sete amigos em um quarto de cinco metros quadrados ou menos, ansiosos pela novidade prestes a deixar as caixas de som em direção aos nossos ouvidos,

o lado a terminava e torcíamos para que o lado b viesse rapidamente,

ainda que a banda tivesse feito merda naquele elepê, era preciso escutar,

após a audição, não sei quem começava a crítica, talvez o mais entendido em música, talvez o gabriel, o único guitarrista do bando, talvez o daniel, palpiteiro,

da resenha íamos para a discussão mais acalorada e só não chegávamos às famosas vias de fato porque éramos muito amigos,

ou covardes,

nessa brincadeira ia uma tarde inteira, às vezes mais,

o som alto, o máximo que as mães permitiam,

às vezes tenho vontade de ligar para os chegados aqui, chamá-los para cá, para curtirmos algum lançamento no spotify,

seria bom.

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imagem: dall-e.

Comentários

sergio geia disse…
Whisner, sua crônica tem sabor de infância. Eu a saboreei. Foi bom.
Jander Minesso disse…
Quantas memórias boas vêm da música, né? Se quiser fazer uma sessão Spotify, eu me convido pra participar.
Albir disse…
Tenho pena dos meninos de hoje que, se ouvem música, é cada um com seu fone. É uma experiência única, ouvir a mesma música, da mesma fonte, É como se ouvíssemos, contritos, uma oração.
Zoraya Cesar disse…
quem chama os amigos para 'curtirem um som' hoje? que bom que era! me deu agora aquela nostalgia desse último conto da Carla, Nomes.

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