ressonâncias >> whisner fraga
só o dono havia escutado, óbvio,
mas no máximo umas três vezes,
e sabe-se lá onde ele comprou o vinil: cidade pequena, uma única e pequena loja, que ainda vendia outras bugigangas e, se brincar, não abria aos sábados,
um passava na casa do outro, que passava na casa do outro e assim por diante, o dia não era bem acertado, era quando tinha disco novo,
sentávamo-nos os seis ou sete amigos em um quarto de cinco metros quadrados ou menos, ansiosos pela novidade prestes a deixar as caixas de som em direção aos nossos ouvidos,
o lado a terminava e torcíamos para que o lado b viesse rapidamente,
ainda que a banda tivesse feito merda naquele elepê, era preciso escutar,
após a audição, não sei quem começava a crítica, talvez o mais entendido em música, talvez o gabriel, o único guitarrista do bando, talvez o daniel, palpiteiro,
da resenha íamos para a discussão mais acalorada e só não chegávamos às famosas vias de fato porque éramos muito amigos,
ou covardes,
nessa brincadeira ia uma tarde inteira, às vezes mais,
o som alto, o máximo que as mães permitiam,
às vezes tenho vontade de ligar para os chegados aqui, chamá-los para cá, para curtirmos algum lançamento no spotify,
seria bom.
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imagem: dall-e.
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