COMO BONS PESCADORES >> whisner fraga

 

era piracema, calor: 

uma vontade danada de experimentar o caniço novo arrematou a decisão, que, de qualquer maneira, não estava difícil,

acho que ninguém era perito em leis ou períodos de defeso dos peixes, de modo que nem se cogitou,

íamos para o barranco do rio, que nos aguardava debaixo de uma ponte, depois de um caminho traçado à marra por carros velhos de outros pescadores,

sobre o equipamento, nem molinete nem vara eram topo de linha, mas cumpriam bem a missão, a preços que cabiam no orçamento, o consagrado custo-benefício,

estacionada a belina, pausa para fotos, rumamos para a peleja, eu, meus irmãos, sobrinha, cunhado e meu pai,

a mana se ajeitou numa pedra, sacou uma carretilha confeccionada com uma lata de extrato de tomate elefante, a linha se encaixando impecavelmente com as ranhuras, o resto era experiência e talento, mas não arredava o olho da minha tralha,

eu a vi fisgando um bagre atrás do outro enquanto me aborrecia com três anzóis perdidos para alguma pedra,

não me custava presenteá-la com os apetrechos, até porque nem os usaria com frequência, focado no doutorado, distante do campo,

mas eu valorizava, porque tudo que pode ser dificultado é típico do homem,

ia nestas cismas quando irrompe um batalhão da polícia florestal, um dos fardados deslizando pela ribanceira, nutrido de autoridades,

pediram alvarás, licenciamentos, carteiras profissionais e outros preâmbulos que só os expedientes da justiça e da ordem para criarem,

o chefe braços cruzados mastigando alguma saudade,

cochichei para minha irmã: se livrar o caniço do confisco, é seu,

ela investiu contra o sonhador: nunca testemunhei eloquência parecida na defesa de um bem, na defesa de qualquer coisa, de certo,

os guardas se contentariam com uma advertência, desde que fôssemos embora naquele momento,

levantamos acampamento, sem nada apreendido, felizes da vida.

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imagem gerada no ideogram.