BRINCA COMIGO? >> Soraya Jordão
Lidar com ela demandava paciência, negociação, firmeza, atitude e muita, mas muita flexibilidade e resiliência.
A danada era linda, pulsante, criativa, carismática e irreverente. Vivia a correr para todo lado, brincar com toda gente. Contudo, não deixava de ser injusta e seletiva. Para uns, emprestava seus brinquedos, convidava para festa, brincava de pique, abraçava, beijava e fazia cócegas. Para outros, impunha sua marra, antipatia, má vontade e até uma certa crueldade.
Quando cismava, atrapalhava os passeios, estragava os planos, mudava o jogo. Com a mesma facilidade com que trazia alegrias, criava infernos. Muito embora tivesse prazer em pequenas vinganças e traquinagens, cativava grande parte dos amigos com seu magnetismo singular.
Outro dia a vi no parque, correndo desengonçada, bochechas rosadas, suor descendo pelo rosto, e as crianças atrás dela, tentando alcançá-la. Ela parava, olhava para trás, ria, fazia careta, sacudia o corpo e cantava: você não me pega, você não me pega, lá, lá, lá, lá. Depois, disparava na frente.
Os colegas, esbaforidos, gritavam: espera, espera, Vida, assim não vale.
Matheus, Mariana e Ingrid pediram licença da brincadeira. Joana parava, tomava fôlego e voltava a correr. Paulo reclamava da brincadeira, mas seguia correndo. Silvia desistiu de brincar.
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