FELIZ NATAL >> Clara Braga

Então é natal, e o que você fez?

Por muitos anos eu achei que essa letra não passava de uma tradução ruim de uma música bonita. Imaginem vocês a minha surpresa quando eu descobri que essa pergunta, que mais parece uma chamada de um coach que quer vender curso de produtividade no final do ano, vinha do próprio John Lennon!

Esse ano, para melhorar as coisas, a trend do momento é a tal da "como vou ser triste em 2024 se..." aí a pessoa enche o perfil dela de imagens belíssimas de 10 momentos extremamente felizes do ano dela e faz você achar que seu ano foi uma bela b***a porque você não conseguiu trocar de carro, viajar com a família ou se quer participar de um happy hour com as amigas.

O problema dessas trends é que ninguém coloca no carrossel os outros momentos nos quais estavam tristes e, por isso, você fica aí achando que foi a única pessoa que chorou sozinha no chão do banheiro enquanto tomava banho, até porque não sobrou outro horário para chorar.

Pois bem, então eu vou te contar que fui feliz em 2024 sim, pude celebrar o primeiro ano de vida do meu filho mais novo, mas também acompanhei minha mãe enfrentar um câncer.

Acompanhei meu filho mais velho enfrentando os desafios do primeiro ano, aprendendo a ler com cada vez mais facilidade, aprendendo contas matemáticas e, o mais importante para mim, aprendendo a se colocar, dizer do que não gostou. Mas também vi minha sogra sofrer um AVC e agora descobrir que vai precisar de um procedimento no coração.

Fiz duas viagens com a minha família, mas em uma delas fiquei entre a alegria de estar vivendo aquela experiência e a preocupação de ver uma tia super próxima, que inclusive cogitamos convidar para essa viagem, sofrer um AVC e eu não saber se ela estaria viva quando eu voltasse.

A vida é assim, todos vivem entre altos e baixos, mas em um mundo de aparências é preciso coragem para assumir suas tristezas e fraquezas.

Voltando à pergunta: então é natal, o que você fez? Sinceramente, esse ano eu sobrevivi. Empurrei muita coisa com a barriga, porque era o que dava para fazer. Fui a melhor versão que pude ser de mim, e ainda assim não fui 1/3 do que já fui em outros anos.

Não quero com essa crônica jogar um balde de água fria no espírito natalino de ninguém, pelo contrário, eu estou deixando o espírito natalino tomar conta de mim para eu renovar as energias para o próximo ano.

Mas vamos combinar de não repetir a famosa frase que todos citaram no início desse ano: ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro! Esse ano eu morri de novo e aprendi que ao longo do ano vou morrer de novo, pois a grande questão não é o não morrer e sim o aprender a renascer.

Feliz Natal!