E POR FALAR EM SAUDADE...<< SORAYA JORDÃO
Eu não me recordo de ter sido uma criança empolgada com o Natal, embora na minha casa tivesse a tradicional árvore decorada com bolas vermelhas e douradas, meia de lã na janela, guirlanda na porta, cartinhas para Papai Noel, mesa decorada com velas, chester, maionese, farofa, frutas cristalizadas, Roberto Carlos, bingo em família e muitas risadas. Diferente do carnaval, momento-brasão do nosso pequeno clã, o evento natalino não era tão aguardado por mim. Ainda assim, quebrar nozes na soleira da porta, martelar coquinhos durante a ceia, para reclamar da sua falta de gosto, e conhecer o sortudo ganhador da rifa de Natal feita por minha vó, representem uma boa parcela das memórias afetivas guardadas na gaveta do “para sempre”.
Contudo, quando vejo um pinheiro decorado de bolas e lacinhos, um enfeite de Papai Noel, um presépio ou uma estrela de Davi, admiro, gosto de contemplar, mas esses elementos natalinos não têm o poder de me transportar para os bons e velhos tempos. Só os pisca-piscas têm esse dom.
Quando o mês de dezembro anuncia sua chegada, através de uma profusão de coloridas luzes piscantes em movimentos diversos, junto com elas voltam à cena, de forma intermitente e desorganizada, lembranças de estimação de outros natais. Elas não obedecem a uma lógica ou cronologia. São lembranças, pedaços de memória, soltas, pulsantes, desconexas, variadas como os pisca-piscas coloridos expostos nas varandas da cidade.
Tem quem ache a decoração excessiva e considere absolutamente desnecessária a utilização dessa alegria caótica e piscante. Tem quem condene essa presepada, esse carnaval de luzes a atrapalhar a beleza das madrugadas escuras. Não é o meu caso. Eu adoro essa magia colorida pulsátil com poder de acalantar saudades, resgatar passado e embalar sorrisos.
Não importa a forma que assumem, pisca-piscas trazem no seu pulsar a eternidade dos meus. Quero-os todos! Sem coerência, definição, organização, harmonia visual ou controle, para que melhor representem a beleza do Natal, a inocência da espera pelo bom velhinho.
Como é feliz o tempo de acreditar.
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