O MOTORISTA GARÇOM >> Sergio Geia

 


O motorista do ônibus lotado estaciona o veículo, desliga o motor para a surpresa de todos, desce em silêncio. Teria um dos pneus estourado? Ou seria problema de motor? 
 
De repente, alguém de dentro do coletivo retira o celular do bolso e começa a filmá-lo. Ele faz sinal para um outro ônibus que passa, entra no veículo, vai embora. 
 
A cena aconteceu na Avenida Brasil, no Rio, e não é obra de ficção. Segundo o Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio, a situação é recorrente; o estresse da categoria seria o vilão, responsável pela conduta inusitada. 
 
Leio a notícia, e me lembro, de imediato, de um outro caso pitoresco que aconteceu comigo e alguns amigos num bar em Salvador. 
 
Era uma turma animada, a conversa rolava solta. Fizemos os pedidos e nos perdemos no tempo e na prosa. Em certo momento, porém, a demora no atendimento foi notada, nem as cervejas davam o ar da graça. 
 
Reclamamos uma, duas vezes. 
 
Na terceira o homem do caixa, muito envergonhado, veio nos falar que o garçom que tinha nos atendido simplesmente fora embora levando os nossos pedidos no bolso. Desculpas mil e, caderninho em mãos, começou a anotá-los novamente. 
 
Diante do ocorrido agora no Rio, me veio a dúvida: 
 
— Seria o motorista de coletivo um antigo garçom em terras baianas? 
 
 
 
P.S.: 1. Vocabulário de memórias ausentes. Esse é o título do meu novo livro. De contos. 11 contos para você se divertir, dar boas risadas, arrancar os cabelos, amar ou chorar, assim como a vida. Está saindo pela Sinete. Uma joia. Última semana de pré-venda, o que significa preço com 30% de desconto em relação ao de capa. Bora aproveitar? Somente até 30/09. E espero você no lançamento, em Taubaté, dia 21/10, no Estação Trem Azul, o bar mais cultural da cidade. 2. Ilustração da crônica: Pixabay 
 
 
 

 

Comentários

Jander Minesso disse…
Se bobear, pegou o ônibus de volta para a terra natal.
Sobre o livro: vem coisa BEM BOA por aí que eu sei, hein?
Sucesso, Sergio!
Darci Siqueira disse…
Boa comparação dos dois personagens, kkkk Será? Parabéns, mais uma jóia de crônica!
sergio geia disse…
A crônica quis ser um respiro. Minha solidariedade ao motorista e até ao garçom. Quem nunca na vida teve vontade de ligar o botão, dar as costas e sumir? Tempos difíceis.

Jander, meu amigo, como você já sabe, os contos exploram as vicissitudes da vida, morte, dor, doenças, velhice e, como contraponto, amor, sempre ele, infância, o cuidar carinhoso e gentil. Estou feliz com o resultado e só tenho a agradecer à Carla e ao Whisner.

Valeu, amigo Darci!
Nadia Coldebella disse…
Eu mesma já quis ter essa coragem. Dar um basta qdo fica insuportável. Mas sou covarde, ignoro o insuportável e continuo.
No caso do garçom, a sorte q não bebo, senão não seria tão compreensiva...
Sucesso no livro, Serginho! Sei que tem muito coração aí.
Gde abraço!
Soraya Jordão disse…
Acho muito importante que a crônica seja espaço para falar do limite de cada um. E com humor, melhor ainda. Parabéns!
Clara Braga disse…
Me lembrei de quando desisti das salas de aula!
Não tive coragem de simplesmente ir embora, acabei cumprindo aviso prévio, mas a sensação de liberdade de largar algo que te faz mal é tão boa quanto é assustadora a sensação de não saber como as coisas ficarão dali em diante!
Adorei a crônica!
Carla Dias disse…
Sergio, se um dia conseguir a resposta para a pergunta que encerra a crônica, por favor, compartilhe. É duro quando para na curiosidade. :)
Zoraya Cesar disse…
Quem nunca teve vontade? Já tive ímpetos de terminar um relacionamento sem dizer uma palavra, simplesmente levantando da mesa. E queria ter a coragem do motorista e do garçom. A gente devia, todos nós devíamos, saber a hora de dizer basta, mesmo silenciosamente.
Albir disse…
Raramente temos coragem, embora a vontade já tenha ocorrido a todos. Por isso tanta identificação com a sua crônica.
Ansioso para ler o livro.
sergio geia disse…
Grato de coração Jander, Darci, Soraya, Zoraya, Nádia, Albir, Carla, Clara. Os comentários enriqueceram a postagem.

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