AINDA SEM TÍTULO >> Ana Raja
Há masoquismo nisso. Quantas de nós já sentiu algo parecido? Com certeza na adolescência, pois esse faniquito não faz parte da maturidade, a não ser que eu esteja no climatério..., mas já?! O inferno na terra e a quentura no corpo.
A playlist insiste. Preciso reagir.
Talvez uma viagem, um café, um livro de poesia, um bar com música ao vivo, ou um telefonema para alguém. A última opção é uma solução razoável e lúcida. A minha melhor amiga saberá o que dizer, costuma ter pressentimentos incríveis. Às vezes, me liga para perguntar o que está acontecendo, ou então, para dizer um sonhei com você. É claro que alguém assim vai esclarecer a confusão que estou atravessando. Imagino as palavras doces que ela irá usar: isso é bobagem; liga não; tem nada não, boba; é coisa que dá e passa, é normal. E para encerrar a conversa: marca uma consulta com o ginecologista, deve ser coisa de hormônio ou a falta dele.
Eu não sei se acho graça dessa conversa inspiradora ou se choro mais. Mas saio dela convencida, pois a melhor amiga sempre tem razão.
Abro o armário, escolho o calçado; volto para a janela, analiso o tempo racionalmente — detesto palavras terminadas em “mente”; decido ir de sandália de salto baixo, tipo rasteirinha — não suporto diminutivos, mas hoje estou estranha mesmo. Me arrumo e saio em busca do lá fora do dia.
No carro, conecto o celular com o bluetooth e coloco a abençoada da minha playlist para trabalhar, a causadora do meu sofrimento. A cada sinal fechado, lágrimas e um nariz efeito chafariz.
Que saco, esqueci de tomar a dose diária de hormônio!
***
Esse texto foi baseado em uma bela e louca conversa entre mulheres reais sobre os seus devaneios diários sobre a idade do corpo. A mente vai bem, obrigada.
Imagem © Marie Lourencin, por Public Domain Museum
Comentários
Estou começando nisso, mas já ando bem incomodada, o suficiente para maldizer quem inventou o desgraçado dos hormônios.
Quero mais textos como esse!
Gde bjo!