PEQUENO MANUAL ANTI-BABACA >>> Nádia Coldebella
1. Introdução explicativa super necessária
Nessa minha vida, tenho me confrontado com um certo tipo de humano que me deixa de cabelo em pé: o ser humano babaca. Não me recordo ao certo quando ouvi essa expressão pela primeira vez, mas ultimamente passei a usá-la com certa frequência em meus pensamentos. Então isso me incomoda, porque a palavra babaca adquiriu para mim uma certa pejoratividade e eu me dei conta de que não estava muito segura do uso que faço dela.
Antes de estripar a palavra, porém, quero que o leitor entenda que, para mim, ela tem servido como um palavrão. O palavrão tem uma função psicológica bastante estudada, que é, em síntese, provocar o alívio da ansiedade e da raiva. E funciona bem. É por isso que a gente solta um quando enfia o dedinho do pé na quina do sofá.
2. Definição Nadiesca
Abaixo, apresento a definição básica contida nos dicionários.
Muito bem, após este alívio dramático, encontrei, por motivos óbvios, minha definição:
3. Anatomia Babaquística
Como é de conhecimento geral (ou só meu), existe uma anatomia que é muito própria da condição babaquizante que mencionei a pouco. De forma didática, o tipo de babaca que me perturba pode ter os seguintes aspectos:
a) Posição social de relevância: geralmente esta posição só tem importância na cabeça dele. Ou se realmente tiver importância, haverá, também na cabeça dele, uma importância maior ainda, geralmente muito próxima a de um pop star ou de Deus.
b) Muitos amigos: este indivíduo se cercará de amigos importantes, de pessoas "da mesma estirpe", pois acredita que precisa ver os pobres mortais de cima. No entanto, muitos dos amigos não tem consciência de sua existência.
c) Piadinhas estilo tio-do-pavê: se este tipo de babaca te perguntar se é pavê ou pra comer, ele provavelmente estará falando de comer outras coisas que não seja o pavê. Isso porque se esse tipo de piada sair da boca deste ser, será cheia de duplos sentidos bem deselegantes e a vítima da gracinha será alguma mulher.
d) Humilhações disfarçadas de comentários inteligentes: uma vez que nosso ser humano babaca é cheio de certezas, de saberes e de superioridade, será de praxe se tornar ofensivo e inoportuno, utilizando-se, para a expressão do fel interior, comentários degradantes que ele acredita serem espirituosos.
e) Ideias estapafúrdias: a terra plana, por exemplo. Ou qualquer outra que manifeste conteúdo retrogrado, degradante, humilhante, xenofóbico, homofóbico, misógino, elitista, agressivo, intolerante. Não importa o que for, o babaca é cheio de crenças e certezas cujo único fundamento e função é afirmar a pretensa superioridade babaquial. (Claro que se você reclamar, é porque só sabe de mi-mi-mi).
4. Como identificar babacas
6. Um recado
Para finalizar, se alguém, ao chegar ao final dessa singela crônica, se descobriu um babaca, não se preocupe. Gostaria de contar uma descoberta científica que pode mudar sua vida.
Um cara, chamado Nicolau Copérnico, descobriu que O SOL É O CENTRO DO SISTEMA SOLAR. O SOL, NÃO VOCÊ.
Humildes abraços.
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PARA SABER MAIS:
https://super.abril.com.br/ciencia/a-ciencia-do-palavrao/
https://www.hypeness.com.br/2019/04/documentario-questiona-a-cultura-de-ser-um-babaca-para-subir-na-empresa/
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Ese texto faz parte do "Projeto Crônicas de Um Ontem" e foi postado pela primeira vez em 17 de junho de 2021.
Comentários
E acho mais. Essa sua crõnica tinha de virar um manual a ser distribuído nas escolas, pra ver se o número de babacas diminui. Como disse, pri-mo-ro-so.