É TOP >> André Ferrer
Invariavelmente, fico estupefato porque a resposta das pessoas parece forjada com o único objetivo de empobrecer a vida e o mundo.
— Por quê nunca viajei para cá? É top!
— Comida top!
— Nem te conto! Esse filme é muito top. Sério.
Eu sei. Vivemos uma época complicada demais para julgar quem reduz as qualidades de uma obra de arte a isto aqui: É top. Comodismo? Pobreza de espírito? Preguiça? Silêncio. Todo cuidado é pouco. Afinal, o preconceito pode estar embaixo daquela tampinha de garrafa que você chuta no caminho para casa.
IMAGEM: ChatGPT |
Sendo assim, uma pessoa pode resumir a ópera com um sonoro É top! e ser tão desculpável quanto o escorpião da fábula, que pede carona ao sapo, promete a paz e termina ferroando o anfíbio no meio do rio.
‘Tá desculpada. A sua natureza ‘tá desculpada.
Outras razões da miséria vocabular podem incluir dificuldades cognitivas, o que seria ainda mais desculpável, e algum tipo inconfessável de sofrimento. O interlocutor também poderia ter um desinteresse atávico em se comunicar, afinal, a humanidade existiu por centenas de anos sob esquemas bem simples.
Ora! Por quê diabos um filme precisaria ser discutido se é mesmo “topzera” no momento em que é assistido?
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