ENTRE ESPINHOS >> Ana Raja

 


Enxerguei a dor e meus olhos não conseguiam ver nada mais.

O espinho de um cacto furou a pele do meu braço. Sangrou, arroxeou ao redor da dor.

Passei a língua na tez ofendida pelo padecimento para estancar o sangue, mas a ardência provocada pelo espinho me trouxe uma revolta, um sofrimento anormal. 

Eu só sentia dor.

O suor nervoso escorria pela minha testa. Não encontrava uma forma de amenizar o que sentia. Estava apegada ao desaforo do espinho, por ele ter reivindicado o direito de me ferir. Respirei em pausas, do jeito que se aprende na ioga. Fechei os olhos e tentei me acalmar. 

Alguns segundos depois, meus olhos cegos de dor foram descortinados para encontrar uma flor amarela e brotos rosas a florir entre espinhos.


anaraja.com.br


Comentários

Anônimo disse…
Que crônica maravilhosa! Numa situação cotidiana, toda a revolta que causa a dor da decepção.
Anônimo disse…
Fui eu q fiz o comentário.Soraya
Jander Minesso disse…
Dizem que, quando a gente dá sorte, as flores brotam bem desses lugares que machucam.
Zoraya Cesar disse…
Enxergar a beleza enquanto sente dor é para poucos. Muito poucos.
Albir disse…
"O que dá pra rir dá pra chorar, questão só de peso e medida, problema de hora e lugar, mas tudo são coisas da vida", já diz o samba!
Que beleza, Ana!
Paulo Barguil disse…
Ah, dor... Ardor... A dor, suas raízes e seus frutos...
Nadia Coldebella disse…
As vezes uma dor é preferível a outra. Em todas elas podemos encontrar alguma flor?
Que crônica linda , dolorosa e poética!!!

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