GIRASSOL >> Sergio Geia

 


Quarta, 28/8, 7h18. 
 
Era um emoji de girassol, talvez, para alegrar o meu dia. 
 
Ao lado da figurinha enviada por WhatsApp, a mensagem: 
 
— Bom dia! 
 
Não era um bom-dia como todos os outros, ele quase não mandava. Dessa vez mandou, talvez, porque quisesse se despedir, pensei depois. 
 
Aguardei um pouco, ele poderia querer conversar ou me perguntar alguma coisa. 
 
Então retornei, desejando-lhe também um dia bacana, seguido por três emojis da velha mãozinha junta, está tudo aqui, registrado no meu celular, vejo agora. 
 
Estávamos no Prego, o Preguinho, disse-me Regina certa vez, ela conhecia o bar. Pollyana Gama, Davi Zaia, Mercia Gama, Anna Paula Vaz Boechat, Zé Rui, João D’Olyveira, Regina e eu. 
 
João contou uma anedota, o sorriso de orelha a orelha, na mesa a taça de cerveja, a plateia se divertindo, bebendo o que a vida tem de melhor, parmegianas, vinhos, literatura, boas conversas, risadas, as importâncias. 
 
Elas são tão preciosas que a gente sai renovado, dizendo vamos repetir, etc. e tal, e nada acontece, sei lá, a vida tão corrida, a gente se justifica, e o que é bacana vai ficando, nosso tempo valioso só alcança as desimportâncias, o cotidiano nos atropela. Não temos tempo de saborear o friozinho, a garoa, boa companhia, vinhos e poesia. Isso é vida sendo vivida, mas a gente prefere a vida sendo desperdiçada, sem nem perceber. 
 
A mensagem de João de quarta passada me desejando um dia bom com uma figurinha de girassol está gravada no meu celular. No mesmo dia veio outra mensagem, a das 20h18, sem qualquer figurinha, ele se sentiu mal, diziam alguns, como assim?, perguntavam outros, estávamos agora à tarde conversando, fizemos reuniões, ele se sentiu mal, mal..., subitamente se sentiu mal, e se foi, o professor João se foi... 
 
Nuvens brancas na Mantiqueira. Gente querida “tardeando” na Mantiqueira e nas nuvens. Eu e meus gostos. Gosto desse azul. Gosto dessa natureza. Gosto dessa gente que me gosta. No entanto, hoje meu pensamento ganhou novas asas e, consequentemente, meu voo ganhará novas alturas. Logo, praticarei meus gostos n’outra esfera, para além da Mantiqueira. Bjs. n’alma! Beijos ternos e eternos... João D’OLYVEIRA. 
 
Pode praticar seus gostos então, amigo, nessa outra esfera, para além da Mantiqueira. Um girassol pra você. Bjs. n’alma! 
 
 
Ilustração: Pixabay

Comentários

Jander Minesso disse…
As coisas simples são as que importam de verdade, mas a gente vive esquecendo disso. Apesar dessa falha humana, a sua escrita é uma constante lembrança do aproveitar cada pequeno momento. Sinto muito pela sua perda, meu amigo.
Pollyana Gama disse…
Eu só consigo lembrar do João assim… Sorrindo feito girassol!
Anônimo disse…
Sérgio Geia A cada crônica que leio mais te admiro pela facilidade de colocar no papel algo que nos faz bem. A cada crônica te vejo brilhar através das ideias e palavras.Parabens sempre Sérgio Geia. Nascestes com o dom de transformar em crônica algo que te chama atenção.
Leio com prazer tudo que escreves e minha admiração por você cresce a cada crônica. Parabéns. Deus dá o dom a cada um conforme sua vontade. Parabéns querido
Receba a admiração ds prima Sylvia Testa Braga. Grande abraço.
sergio geia disse…
Jander, Pollyana e Sylvia, obrigado pela leitura, comentários e carinhos.
Zoraya Cesar disse…
Que texto lindo sobre uma pessoa que deve ter sido linda também. Só você mesmo para fazer dessa tristeza súbita e dolorida uma crônica de tal beleza.
Ana Raja disse…
Que delicadeza de texto, Sérgio!
Nadia Coldebella disse…
Sinto pela sua perda, Serginho! É uma sensação muito estranha mesmo vc ver alguém e depois essa pessoa não estar mais ali. É um vazio enorme que fica. Espero que muitos girassóis cresçam no espaço que ele deixou, repletos das importâncias que vcs conseguiram compartilhar. Muito obrigada por compartilhar sua dor numa cronica tão lirica, tão linda! Grade abraço!
Albir disse…
É mesmo uma situação estranha, a pessoa não está mais, no entanto pode ser lida ou ouvida em mensagens. Tempos desconcertantes esses que misturam presença e ausência num clic. Belo texto.
sergio geia disse…
Grato, Zoraya, Ana, Albir e Nádia.

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