VIVER A MORTE << SORAYA JORDÃO
Maristela tinha medo de barata, abelha, lagartixa, aranha, cobra, gato, mariposa, cachorro, escuro, chuva, altura, raio e traição.
De igual modo, se assombrava com os mistérios do corpo. Havia sempre uma preocupação a lhe rondar: dor de cabeça era aneurisma; tosse era tuberculose e qualquer outro sintoma corriqueiro, nela, se tornava suspeita de câncer. Toda semana, um médico, uma consulta, um exame, um terror e uma insatisfação. Estava certa da gravidade do seu caso, embora não encontrasse provas do mal que lhe afligia.
Foram 86 anos de buscas, chazinhos, cápsulas, dietas, insônias, sofrimentos, promessas, angústias e orações.
Morreu sem descobrir qual era o mal que lhe afligia.
Amor, amigos, viagens, risadas e sonhos?
Não teve tempo para isso.
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